Título: Despedida com juros em alta
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Fonte: Jornal do Brasil, 01/02/2006, Economia & Negócios, p. A17

Alan Greenspan passa presidência do Federal Reserve a Ben Bernanke depois de elevar taxa americana para 4,5% ao ano

Depois de 18 anos, Alan Greenspan deixou ontem o comando do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos). E a despedida aconteceu com uma alta de 0,25 ponto percentual na taxa de juros do país, que passou para 4,5% ao ano. O sucessor de Greenspan, Ben Bernanke, foi confirmado no cargo ontem pelo Senado para um mandato de quatro anos.

No posto desde agosto de 1987, Greenspan, indicado pelo presidente Ronald Reagan, enfrentou desafios como a queda de 22,6% no mercado de ações do país dois meses depois de assumir o cargo. Para efeito de comparação, a queda de outubro de 1929, quando os EUA entraram na Grande Depressão, foi de 11,7%.

Greenspan recebe o crédito por ter mantido sob controle a política monetária americana (o que significa manter a estabilidade financeira e de preços) através das crises econômicas desde 1987 - nos anos 90, as crises do México e da Ásia; em 2000, o estouro da bolha da tecnologia, e a recessão em 2001, na esteira dos ataques de 11 de Setembro. As críticas, por sua vez, incidem sobre sua forma de combater as bolhas da economia: deixá-las estourarem para só então agir, desapertando a política monetária através de baixas de juros, para irrigar a economia e tentar evitar que entrem em recessão.

A partir de agora, Ben Bernanke, economista de 52 anos formado em Harvard , com PhD no Massachussets Institute of Technology (MIT), ex-diretor do próprio Fed e ex-chefe dos conselheiros econômicos da Casa Branca, terá que lidar com problemas para os quais Greenspan chama a atenção.

Entre os principais desafios citados pelo ex-presidente do Fed estão a previdência e o Medicare (programa federal de assistência médica). A aposentadoria da geração baby-boom dos EUA (os americanos nascidos no pós-Segunda Guerra Mundial) se aproxima e o orçamento americano deve sofrer sérias pressões.

- Com os gastos com saúde continuando a crescer mais rápido do que a economia como um todo, os recursos adicionais necessários para tais programas vão exercer pressão no orçamento federal que crescerão de forma provável a tornar as políticas fiscais insustentáveis - disse Greenspan em um de seus pronunciamentos ao Congresso no ano passado.

Além disso, Bernanke terá que acelerar o crescimento da economia do país. O Produto Interno Bruto (PIB) teve crescimento anualizado de 1,1% quarto trimestre de 2005, menor ritmo desde o igual período de 2002. Além disso, a desaceleração veio acompanhada de uma alta de 2,6% nos preços no país no trimestre passado. O índice é menor que o registrado no trimestre imediatamente anterior, quando a alta foi de 3,7%. O núcleo da inflação, que exclui os preços de alimentos e energia, teve, no entanto, aumento de 2,2%, contra 1,4% registrado no terceiro trimestre - o que mostra que a inflação está contaminando outros preços.