Título: PT prepara relatório paralelo
Autor: Daniel Pereira e Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 01/02/2006, País, p. A3

Apreensivos com a repercussão do texto final da CPI dos Correios, partidários de Lula investem contra conclusões de Serraglio

BRASÍLIA - Apesar da garantia do presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), e do relator da comissão, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva será apenas citado no relatório final, sem juízo de valor, a bancada do PT prepara um documento paralelo sobre as investigações. A idéia é construir ao redor de Lula uma barreira e impedir que a menção ao presidente abra brecha para sanções políticas, como o pedido de impeachment, e judiciais em pleno ano eleitoral. Como parte de estratégia de blindagem, ministros do núcleo político já encomendaram a técnicos do governo atenção máxima. Querem se municiar para rebater declarações de Serraglio e os indícios de irregularidades já antecipados pelo relator. A ordem é para que pontos envolvendo o presidente sejam desmontados um a um, de forma a evitar possíveis constrangimentos legais. O assunto é tratado no mais absoluto sigilo. Ainda não há um documento oficial para contestar Serraglio, com a chancela do governo. Até porque persiste a esperança de que Lula não seja citado.

A possibilidade de o presidente ser mencionado no relatório da CPI tem deixado governistas com os nervos à flor da pele. ''Maluquice'', ''destempero'', ''emaranhado do vazio'' são os termos mais amenos utilizados em conversas entre parlamentares do PT e integrantes da base aliada para desqualificar o trabalho do relator. Um parlamentar petista com assento cativo no Planalto atribuiu ontem a insistência de Serraglio em incluir o nome do presidente Lula no relatório final a ''ressentimentos e mágoas'' acumulados desde maio do ano passado, quando o deputado perdeu a indicação ao cargo de ministro do Tribunal de Contas da União (TCU).

Apesar da disposição de petistas em elaborar um relatório alternativo, o senador Delcídio Amaral reafirmou ontem a crença na votação de um único texto final pela CPI dos Correios. Disse que está mantendo conversas ''de terceiro e quarto graus'' para viabilizar um acordo em relação ao documento, sem citar quais são seus interlocutores de alto coturno.

- A apresentação de um relatório paralelo será um tiro no pé - afirmou o presidente da CPI dos Correios, com a autoridade de quem também ocupa o posto de líder do PT no Senado.

Entre os articuladores da possível elaboração de um documento alternativo está a senadora Ideli Salvatti (SC), que pode suceder Delcídio à frente da bancada petista. Ela repisa a tese de que não há provas de envolvimento do presidente Lula nas irregularidades apuradas.

- As declarações do Serraglio criaram um ruído (na negociação do acordo) e um clima favorável à apresentação de um relatório paralelo - disse Ideli.

Segundo a senadora, aliados do Palácio do Planalto tentarão derrubar o relatório de Serraglio caso o deputado faça simples menção a Lula. Rejeitada a peça, seria colocado em análise o texto alternativo. Neste constaria, além das informações respaldadas por provas, dois tópicos destinados a sangrar o PSDB. Um deles detalharia a relação entre os tucanos e Marcos Valério Fernandes de Souza, mostrando que o sistema de drenagem de recursos públicos para partidos políticos funcionava desde o governo anterior. Outro tópico dedicaria especial atenção ao relacionamento entre o banqueiro Daniel Dantas e o PSDB durante a gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

- Cada vez mais, vai se configurando que o valerioduto é antigo e amplo - disse Ideli.

O embasamento jurídico de um eventual relatório paralelo apresentado pela bancada do PT será dado pelos deputados José Eduardo Cardoso (PT-SP), sub-relator de contratos da CPI dos Correios, e Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), vice-líder do PT na Câmara. Um dos argumentos que podem ser utilizados no relatório alternativo é que haveria apenas uma ''indução'' de que Lula teria conhecimento do esquema do mensalão.