Título: Deputados acusam complô
Autor: Renata Moura e Mariana Santos
Fonte: Jornal do Brasil, 27/01/2006, País, p. A3

BRASÍLIA - Os integrantes do Conselho de Ética foram a público ontem denunciar a existência de um ''complô'' para desmoralizar o Conselho e acabar com as investigações de denúncias envolvendo parlamentares. Além da pressão sofrida pelos conselheiros, Júlio Delgado (PSB-MG) afirmou que deputados vêm utilizando a necessidade de reformulação do regimento interno do Conselho como justificativa para interromper as atividades do colegiado.

- Tem muita gente jogando na tese da implosão do Conselho para que os demais processos não sejam julgados aqui, mas sim na Comissão de Constituição e Justiça - disse Delgado.

Segundo Delgado (PSB-MG), que foi relator do processo contra o ex-deputado José Dirceu (PT-SP), fica mais fácil para as lideranças partidárias manipularem os votos na CCJ do que no Conselho.

- Aqui nós temos um mandato, só saímos se renunciarmos. Na CCJ, a liderança pode substituir qualquer um a qualquer hora - completou.

De acordo com o deputado Ricardo Izar (PTB-SP) há uma campanha sistemática para desmoralizar o Conselho e, com isso, implodi-lo. Integrantes afirmam comentam que a pressão é intensa desde o início das denúncias. Um exemplo desta pressão foi dado na quarta-feira pelo deputado Pedro Canedo (PP-GO). Ele denunciou que seu partido o forçava a votar contra a cassação de Roberto Brant (PFL-MG). Sem querer se identificar, um deputado disse que a denúncia permitiu que ele votasse com o relator pela cassação de Brant, mas lhe rendeu a ameaça de expulsão do partido.

O deputado Cezar Schirmer (PMDB-RS) foi outro que fez uso da tribuna do Conselho para denunciar o ''complô''. Schirme disse que a mais de dois meses pediu à CPI documentação referente às investigações do caso João Paulo Cunha (PT-SP). Até o momento, não recebeu nada.

- Eu responsabilizo a CPI e a Mesa do Senado pelo atraso nos trabalhos do Conselho - afirmou.

A deputada Angela Guadagnin (PT-SP) disse não conhecer qualquer tipo de ''complô''.

- Temos que reconhecer que o regimento precisa ser reformulado, mas não agora, porque seria mudar as regras do jogo. (F.P.)