Título: PSDB carimba o acordão
Autor: Renata Moura e Mariana Santos
Fonte: Jornal do Brasil, 27/01/2006, País, p. A3

BRASÍLIA - O Conselho de Ética enfrentou um dia tenso, com a aprovação apertada de dois processos de perda de mandato, dos deputados Roberto Brant (PFL-MG) e Professor Luizinho (PT-SP). O esforço conjunto para salvar Roberto Brant ainda no Conselho foi em vão. Por oito votos a sete, o Conselho aprovou o pedido de cassação do parlamentar mineiro. O que se viu no julgamento de Brant serviu para comprovar as relações explícitas de solidariedade entre PSDB e PFL na tentativa de absolver o mineiro. Com o prestígio de ser ex-ministro do governo de Fernando Henrique Cardoso, Brant conseguiu retirar a cadeira de um dos dois titulares tucanos no conselho para não ser prejudicado na votação. Constrangido em seguir a orientação do líder do PSDB, deputado Alberto Goldman (SP), de votar contra a cassação do pefelista, Gustavo Fruet (PR) renunciou ao mandato de integrante do conselho. Há três meses afastado das reuniões, Fruet afirma que não poderia votar contra a cassação de Brant uma vez que, ele mesmo, como integrante da CPI dos Correios, ajudou a elaborar o pedido de representação do parlamentar.

- Fiquei numa situação difícil e não poderia ser incoerente. Participei das investigações da CPI dos Correios e aprovei o relatório que pedia a investigação dele no conselho - explicou-se.

Apesar de considerar que o voto no conselho deve ser individual, assim como no plenário, Fruet abriu mão do seu cargo de conselheiro para não contrariar um determinação partidária:

- Foi puramente por uma questão de respeito em relação ao líder.

Presente à sessão que aprovou o pedido de cassação, Goldman negou que tivesse orientado seus pares a votar pela absolvição do pefelista. Disse que Fruet já estava afastado do conselho havia muito tempo e que a sua saída foi uma ''decisão pessoal'' .

Durante os debates que antecederam a votação do pedido de cassação do deputado mineiro, pediu a palavra e por alguns minutos elevou o tom da voz em defesa de Roberto Brant.

- Representa o que há de melhor no Congresso. A saída dele não melhora a Casa, pelo contrário, piora. Está clara a origem dos recursos que ele recebeu. Esse dinheiro tem origem e destino - rebateu, na tentativa de desvincular a prática de caixa dois do mensalão.

Os dois votos do PSDB em favor de Brant vieram de parlamentares desconhecidos nas pautas de reuniões do Conselho. Um deles é Bosco Costa (PSDB-SE), suplente da comissão. Compareceu apenas nas últimas reuniões, substituindo o colega Carlos Sampaio (PSDB-SP), que está viajando. No lugar de Fruet, assumiu Jutahy Jr. (PSDB-BA), que não compareceu uma única vez nos últimos seis meses. Sem medo de represália, Jutahy declarou que pediu para votar em favor de Brant por ter consciência das qualidades éticas dele.

Para o relator do processo contra Brant, Nelson Trad (PMDB-MS) a estratégia dos tucanos evidenciou uma ''blindagem do passado''. Segundo ele, com Brant inocentado, o PFL se veria longe das denúncias de mensalão e em troca daria aos tucanos a segurança de que nada respingaria no PSDB.

- Querem proteger uma vida (política) que atuou de maneira muito intensa no governo deles - avaliou Trad.

Por nove votos a cinco, o Conselho de Ética da Câmara também aprovou ontem o relatório de Pedro Canedo (PP-GO) que recomenda a cassação do deputado Professor Luizinho (PT-SP) por quebra de decoro.

Professor Luizinho foi o primeiro deputado do PT a ser julgado após a cassação de José Dirceu (PT-SP) e é acusado de ser beneficiário de R$ 20 mil do esquema montado por Marcos Valério Fernandes de Souza.

O dinheiro foi sacado por um assessor do gabinete. O petista diz que não sabia da operação e que os recursos abasteceram campanhas de vereadores do PT no ABC paulista.