Título: Corrupção ajudou radicais
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Fonte: Jornal do Brasil, 27/01/2006, Internacional, p. A10

RAMALA - O apoio de palestinos ao Hamas sempre se baseou nos ataques suicidas contra Israel. No entanto, as denúncias de corrupção e a má administração da facção Fatah, cujo líder é o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, foram a melhor propaganda que o grupo radical poderia ter.

- O Hamas não ganhou porque os palestinos o amam. Mas por uma vingança contra o governo do Fatah - afirmou Adel al-Helo, comerciante de 41 anos que trabalha na Faixa de Gaza.

Já na opinião do analista árabe Dawoud Sharayan, os palestinos deram uma resposta a Israel:

- Queremos políticos linha-dura para enfrentar o Estado israelense linha-dura, que nunca deu nada em troca das concessões. É preciso um Ariel Sharon árabe.

Na Faixa de Gaza, no entanto, há uma mistura de sentimentos. Enquanto muitos eleitores comemoravam, policiais temiam a vingança de militantes radicais contra as forças de segurança, e comerciantes, o fechamento da fronteira por Israel.

- Estamos felizes agora que teremos um Estado islâmico - disse Nahla Geoud, num campo de refugiados. - Se Deus quiser, o Islã vai prevalecer, e vamos nos livrar da corrupção.

O eleitor Moustafa Shaaban, que usa um boné com a marca do Hamas, também está confiante no próximo governo:

- Mudar é bom. Queremos viver em paz - afirmou.

O policial Refaat Ayoub, militante do Fatah, por sua vez, ficou em estado de choque:

- Não sei como reagir. O Fatah é a ANP. Estabilizou a Palestina e defendeu nossos direitos - disse. - O Hamas tem uma antiga disputa com alguns membros da ANP, especialmente os da força de segurança - completou o agente, que por anos esteve em confrontos contra os radicais.

Já o comerciante Ayad al-Ejl teme a inexperiência política dos extremistas:

- O Hamas não está pronto para assumir essa responsabilidade. Eles não querem negociar com o governo israelense - disse, acrescentando que ''toda a nossa vida depende de Israel''. - As pessoas estão preocupadas. Ninguém sabe o que vai acontecer daqui para frente.

Os críticos temem que a organização radical estabeleça uma agenda conservadora, baseada na lei islâmica e colocando obstáculos para um futuro de paz.