Título: Choque geral em Israel
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Fonte: Jornal do Brasil, 27/01/2006, Internacional, p. A10
JERUSALÉM - A vitória do Hamas nas eleições legislativas palestinas gerou desespero entre os israelenses. O primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, que anteriormente descartou qualquer diálogo político com um governo que incluísse a organização terrorista, convocou uma reunião de emergência com comandantes militares e de segurança.
O grupo radical tem como missão destruir o Estado judaico e executou 60 ataques suicidas contra o rival nos últimos meses. Com esse histórico, chega, agora, ao Parlamento árabe com 76 das 132 cadeiras.
A apreensão ficou evidente ao longo do dia, com emissoras de rádio e canais de televisão transmitindo uma série de programas especiais e de debates sobre a vitória da organização radical. No governo, no entanto, prevaleceu a prudência. Segundo um funcionário do governo que não quis se identificar, ''os ministros receberam a ordem de serem discretos no momento''.
A israelense Avi Zana, de 46 anos, ficou chocada quando soube que o grupo que matou seu filho de 18 anos venceu as eleições árabes das quais participou pela primeira vez:
- Os palestinos mostraram sua verdadeira cara ao eleger o Hamas. O grupo não quer controlar a Autoridade Palestina, quer controlar Israel.
Como ela, muitas outras mães se reuniram no Centro da cidade em um protesto organizado pela Associação de Vítimas do Terror.
Para o analista político israelense Yochanan Tsorev, no entanto, a vitória do grupo militante é uma resposta às denúncias de corrupção e má administração do atual governo, dominado pela facção Fatah, e não uma declaração de guerra à Israel.
- O Hamas não foi eleito para executar ataques contra Israel, mas para trazer mudanças.
A ministra de Relações Exteriores, Tzipi Livni, por sua vez, pediu à União Européia que não reconheça nem dialogue com o Hamas até que o movimento radical islâmico abra mão do terrorismo.
- Depois de o Hamas se apoderar da ANP, a UE deve fazer sua voz soar de forma alta e clara para reforçar que não haverá nenhum processo com um governo terrorista - afirmou, em encontro com o enviado do bloco europeu ao país, o belga Marc Otte. A reunião teve como objetivo traçar um plano de atuação para o novo mapa político da região.
Já o presidente de Israel, Moshé Katsav, declarou que não descarta a possibilidade de negociação com o Hamas, condicionando o diálogo, no entanto, ao abandono das armas por parte dos extremistas.
- Se o Hamas se encaminhar em direção à paz, poderemos avançar rumo à paz - disse.
Katsav acrescentou que ''não faz sentido que organizações armadas participem de um processo democrático'' e que o Hamas continuou defendendo, até mesmo nos dias anteriores ao pleito, ações terroristas.
Para alguns, no entanto, se Ariel Sharon estivesse no comando do país, o resultado poderia ter sido outro. O líder ordenou a morte de comandantes do grupo radical depois de ataques contra os judeus.
- Ele sabia como lidar com o Hamas - disse o comerciante Yossi Amzalik, de 52 anos.