Título: Emprego, milagre estatístico
Autor: Sabrina Lorenzi, Fernanda Rocha e Antônio Furtado
Fonte: Jornal do Brasil, 27/01/2006, Economia & Negócios, p. A17

A desistência de milhares de brasileiros em buscar uma vaga no mercado de trabalho permitiu que o desemprego, em dezembro, atingisse o menor patamar em quase quatro anos. A taxa de desocupação recuou para 8,3%, ante 9,6% em novembro ¿ o menor nível desde março de 2002. Cerca de 291 mil pessoas saíram do time de desempregados entre novembro e dezembro, ao mesmo tempo em que apenas 107 mil postos de trabalho foram criados. Por esta razão, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) atribui a melhora do indicador não ao aumento da ocupação, mas à falta de expectativas. ¿ Não imaginava que tanta gente fosse sair do mercado ¿ afirmou o gerente da pesquisa, Cimar Azeredo. ¿ As pessoas não estão optando; estão sendo obrigadas a ser inativas.

Segundo o IBGE, o número de desalentados cresceu 64%. Mesmo com aumento da população em idade ativa, o universo de inativos vem crescendo há meses. Dos 17 milhões de inativos, 2,8 milhões de gostariam de estar trabalhando. As populações com menos de 18 anos e com 50 anos ou mais de idade, respectivamente, representavam 31% e 36,2% dos inativos. Ou seja, um terço da população inativa tem idade adequada para trabalhar. O que indica que, se não estão trabalhando ou à procura de emprego, optaram pelo sossego ou encontram-se desestimulados.

O fenômeno explica, em parte, por que a taxa de desemprego caiu em ritmo mais acentuado do que o aumento da criação de vagas. Muitos deixaram de procurar emprego sem necessariamente ter encontrado um.

De acordo com o IBGE, o total de desempregados nas seis regiões metropolitanas investigadas, de 1,8 milhão, ficou abaixo de dois milhões pela primeira vez. A renda do trabalho cresceu em média 1,8% em relação a novembro e 5,8% na comparação com dezembro de 2004. Fruto da inflação baixa.

Em dezembro de 2005, o número de desocupados nas metrópoles caiu 13,6% em relação a novembro e 12,3% em relação a dezembro de 2004. Contra dezembro de 2004, houve aumento de vagas em Belo Horizonte (4,5%), Rio de Janeiro (2,5%), São Paulo (2%) e Porto Alegre (2,6%), e estabilidade nas demais regiões metropolitanas.

Apesar disso, o número de pessoas ocupadas se manteve estável em relação a novembro, na faixa de 20,2 milhões de pessoas.

¿ A contratação de temporários em dezembro justifica parte da queda do desemprego para 8,3%. A desistência em procurar emprego também se explica pelo fato de estarmos em um período de feriados, festa de fim de ano, em que não há contratação ¿ alega Azeredo.

O emprego com carteira assinada cresceu 2% na comparação mensal e 6% na anual.

¿ Uma das respostas para a melhora do rendimento foi a queda da inflação, que de certa forma aumenta o poder de compra e a movimentação da economia. Mas não se pode esquecer de que a base de comparação é fraca: 2003 foi um ano de crescimento muito baixo e 2004, embora tenha apresentado melhora, ainda sofreu os reflexos do ano anterior.

Na média de 2005, a taxa de desemprego ficou em 9,8%, ante 11,5% em 2004. O rendimento médio mensal no ano subiu de R$ 953,51 em 2004 para R$ 972,61 em 2005.

O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) ressalta a influência da sazonalidade na pesquisa. ¿Não se deve superestimar o significado desses números, pois reduções expressivas no desemprego são usuais em meses de dezembro. A melhor interpretação sobre o momento vivido pelo emprego urbano no Brasil é que prevalece uma situação de estagnação. Grande parte da redução na taxa de desocupação deveu-se mais à saída de pessoas do mercado de trabalho do que propriamente criação de novos postos de trabalho¿.

O economista Marcelo de Ávila, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), porém, ressalta o fato de que, no ano passado, o crescimento do emprego com carteira assinada, com média anual de 6%, se deu em ritmo mais veloz que o do sem carteira, de 4,5%.

¿ O crescimento do rendimento de 5,8% terá impacto positivo no consumo, ainda mais se forem levados em conta o reajuste do salário mínimo para R$ 350 a partir de 1º de abril e a correção da tabela do IR em 8%, medidas aprovadas esta semana.

Ele destaca, ainda, o aumento da empregabilidade para pessoas com maior qualificação ¿ o nível de ocupação cresceu 6,7% para aquelas com 11 anos ou mais de estudo, enquanto caiu 5,3% para as com 1 a 3 anos.