Título: Não há renda que sustente superoferta
Autor: Mariana Carneiro
Fonte: Jornal do Brasil, 29/01/2006, Economia & Negócios, p. A17

Voz dissonante emerge do próprio mercado. Quem já atua no segmento sabe: não há renda que sustente a superoferta de crédito criada. Para o presidente da Losango - a maior financeira do Brasil -, Leonel Andrade, entre os atuantes do mercado - 48 empresas, segundo dados do Banco Central - apenas 10 vão continuar operando o crédito consignado.

- O excesso de confiança no país provocou essa onda e está todo mundo indo com muita sede ao pote - avalia.

Para ele, o mercado deve assistir a uma alta de apenas 20% este ano.

- Não há renda disponível para mais do que isso - pondera. - E é a queda da taxa básica de juros (Selic) que vai possibilitar esse crescimento.

Para Andrade, que atua no segmento desde os tempos em que o mercado era composto apenas por quatro players (Losango, Morada, Fininvest e Aymoré), o excesso de oferta e de empresas que atuam neste setor, além de não ser sustentável, não é positivo para o sistema:

- Isso não é bom no longo prazo. Daqui a dois, três anos, haverá menos competidores no mercado. Afinal, o bolo a ser dividido pelas empresas continuará o mesmo.

- O consignado já atingiu o filão inicial (cerca de R$ 10 bilhões), mas o crédito para a aquisição de bens (CDC) tem movimento crescente. Seja via convênio com lojas tradicionais do varejo, seja em novos mercados, como agências de viagem - rebate Carlos Roberto Vilani, do Panamericano. - Antes, o cliente era só tomador de dinheiro, hoje ele pode acessar outros produtos.

Além das lojas com a bandeira própria, o setor deve continuar a operar associações com as lojas de varejo para crescer.

- Essa é uma forma de expansão do sistema financeiro daqui para frente. Para a financeira, o que conta é a capilaridade. Para a loja, ganha-se com a fidelidade do cliente - prevê o advogado Maurício Almeida Prado, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP) e sócio do escritório LO Baptista Advogados.