Título: Dia de relax em plena convocação extraordinária
Autor: Juliana Rocha e Mariana Santos
Fonte: Jornal do Brasil, 29/01/2006, País, p. A4

Enquanto parlamentares lotavam a sala onde o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, prestava depoimento para a CPI dos Bingos, em Brasília, a 1.200 quilômetros, na Rua Bandeira de Melo, Ilha do Governador, o deputado federal Vanderlei Assis (PP-SP) chegava em casa, para relaxar com a família em plena quinta-feira, às 17h. Ele recebeu R$ 2.134 por dia de trabalho no mês de janeiro, durante a convocação extraordinária, mas só costuma freqüentar o Congresso de terça a quinta-feira.

Carioca, Assis foi eleito em São Paulo pelo Prona, com pífios 275 votos - a reboque dos 1,5 milhão de eleitores do presidente do partido, Enéas Carneiro. O parlamentar teve apenas 18 votos a mais que os 257 necessários para a cassação do mandato de um deputado na Câmara. Logo no primeiro ano, ele mudou de legenda, filiando-se ao PP.

- Hoje (quinta) vou ficar relax em casa com a família e amanhã vou a São Paulo para percorrer os municípios, conversar com os prefeitos. Esse é o trabalho de um deputado - justificou Assis sobre sua rotina, na porta da residência de três andares que, segundo vizinhos, tem quatro quartos, piscina e salão de jogos.

Assis faz questão de não devolver um centavo do salário extra recebido na convocação extraordinária, de R$ 25.600. Também não abre mão de usar toda a verba indenizatória de R$ 15 mil mensais como ajuda de custo. Tanto que sua média de gastos por mês com combustível, hospedagem, alimentação e serviços de assessoria é de R$ 14.999. Em alguns meses do ano passado, o deputado apresentou notas de combustível que somavam R$ 20 mil.

Os elevados gastos de Assis são inversamente proporcionais à sua atuação na Câmara. Mesmo com índice de presença nas sessões plenárias de 85%, ele nem sempre fica até o fim. A julgar pelos horários apresentados pela chefe de gabinete, Ana Cláudia. Na quinta-feira, por exemplo, ele embarcou no vôo de 14h em Brasília e, para isso, teria que sair antes do encerramento, às 13h26, da discussão dos detalhes da Super-Receita.

O deputado admite que não tem nenhum projeto de lei aprovado, mas cita a proposta de incluir os dentistas do trabalho na política de saúde ocupacional como ''semi-aprovada''. Ele também é o criador da Frente Parlamentar do Software Livre, esquecida em função do lobby de multinacionais.

- Ele não tem lastro político, não tem uma biografia forte. Por isso desaparece no debate de matérias - avaliou Marcos Verlaine, assessor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar, que acompanha o desempenho dos congressistas. Para ele, são poucas as chances de reeleição de Assis.

O deputado admite que a candidatura por São Paulo foi estratégia eleitoral. Ele justifica que precisava acompanhar Enéas, o grande expoente do partido. Sua popularidade no Rio é, porém, maior que entre os paulistas. Tanto que recebeu 189,3 mil votos dos eleitores fluminenses quando concorreu ao Senado em 1994 - 688 vezes mais que os 275 que o elegeram deputado federal.

- O Dr. Enéas se candidatou por São Paulo. Seria mais do que natural a nossa candidatura por lá também. Você concorda que aqui (no Rio) teríamos pouca chance, né? - indagou o deputado, acrescentando que não vê problemas em um parlamentar candidatar-se por outro estado. Segundo ele, ''existem casos de candidatos que moram no norte do país e se candidatam por estados do sul e vice-versa''.

O Ministério Público de São Paulo discorda do deputado. O promotor Arnaldo Hossepian Júnior tentou cassar o título de eleitor logo após as eleições de 2002. Vanderlei Assis chegou a ser condenado em primeira instância, mas o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aceitou recurso do parlamentar, sob alegação de falta de tempo para apresentar provas. Em 2005, Assis voltou a transferir o título de eleitor para o Rio.

Hossepian não esconde a decepção com o caso. No processo, o promotor alegou que Assis ''fixou residência em São Paulo na casa de amigos'', o que caracterizava ''inscrição eleitoral fraudulenta''. Assim, o deputado não teria vínculo afetivo, patrimonial, profissional ou comunitário com o município de São Paulo.

- Queria pedir a cassação do registro e depois do mandato de parlamentar. Mas não discuto a decisão do TSE.