Título: Substâncias tóxicas
Autor: Clara Cavour
Fonte: Jornal do Brasil, 29/01/2006, Internacional, p. A7

Nem mesmo pela resolução do maiores conflitos políticos da Argentina, como a histórica disputa com os ingleses pelas ilhas Malvinas, ou a contenda com o Chile pelo Canal de Beagle, o governo recorreu ao Tribunal Penal Internacional de Haia. Agora, a preocupação ambiental levou a nação a ir à Corte. Se as duas fábricas de celulose forem construídas às margens do rio Uruguai, farão o despejo de dioxinas e furanos, substância muito tóxicas, que são cancerígenas e envenenam peixes.

Os compostos têm pouca capacidade de biodegradação, ou seja, permanecem muitos anos no meio ambiente armazenados no tecido de organismos vivos.

- Como saber qual a quantidade de dioxina suficiente para provocar câncer? Com o vento, o produto pode se depositar na grama que o gado come e ser transmitida ao ser humano - alerta Héctor Sejenovich, membro da parte argentina da comissão bilateral e professor de Ciências Sociais e Ambiente na Universidade de Buenos Aires.

Sejenovich sustenta que o rio - devido a produção de, em média, 1,5 milhão de toneladas anuais de celulose - pode não ter capacidade para absorver os poluentes. E apesar de estar limpo, tem um ecossistema frágil, afirmam especialistas.

- Além disso, há contaminação pela emissão de gases que produzem mau cheiro e poluem no ar - afirma Paula Bruffman, responsável pela campanha do Greenpeace contra as fábricas.

Sejenovich critica tanto a tecnologia ''Livre de Cloro Elementar'' que será usada pela Botnia, uma das empresas, quanto a do ''Totalmente Livre de Cloro'', defendida pelo Greenpeace.

- Nenhuma assegura a não geração de dioxinas. É possível criar uma nova - disse.