Título: Sob a sombra de Fujimori
Autor: Sheila Machado
Fonte: Jornal do Brasil, 29/01/2006, Internacional, p. A8

Alejandro Toledo está prestes a deixar a presidência do Peru com quase 90% de rechaço do povo, o que faz do peruano o líder mais impopular da América Latina. É neste vácuo de simpatia que Ollanta Humala consegue fazer sua candidatura crescer, ao prometer mudanças que Toledo não conseguiu cumprir. As mesmas transformações que o ex-presidente Alberto Fujimori prometeu e também não realizou.

Analistas acreditam que a falta de um programa oficializado seja um indício de que o nacionalista pode abrandar o discurso, se chegar ao poder. Dessa forma, ele se tornaria quase um clone político de Fujimori, eleito como o ''salvador da pátria'' e que, uma vez no palácio, tornou-se um liberal.

A comparação não se restringe ao futuro. No passado de Humala paira uma sombra de Fujimori. Nos anos 90, quando o presidente enfrentava a crise política que culminou com sua queda, o então general tentou articular um golpe de Estado. Devido aos contatos do militar com o presidente e seu principal assessor, Vladimiro Montesinos, muitos se perguntam se o movimento não foi, na verdade, uma manobra para criar um ''perigo externo'' contra o qual o governo poderia se rearticular para lutar.

- Acho que a real personalidade de Humala é a de alguém que não vai combater a corrupção e o autoritarismo na política se chegar ao governo - acredita o cientista político Rolando Ames.

- Humala é um outsider, uma mistura de nacionalismo e autoritarismo militar, típico dos anos 90. E com a crise de aceitação dos políticos, encontra espaço para surgir como um novo caudilho - acrescenta o analista Pedro Mireles.

Anistiado pelo Parlamento, Humala foi enviado como adido militar para Paris e Seul. Voltou há dois anos, para começar a campanha presidencial. Entretanto, não conta com o apoio das Forças Armadas, mesmo porque, no Peru, a instituição é proibida de se posicionar politicamente. Mas sabe-se que vários oficiais de baixa patente identificam-se com o ex-general. E as eleições de 9 de abril serão as primeiras desde a redemocratização em que soldados e polícias poderão votar.