Título: Governo do Irã responde a Bush
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 02/02/2006, Internacional, p. A9

Ahmadinejad chama presidente americano de ¿instigador da guerra¿

TEERÃ - Um dia depois de o presidente americano, George Bush, ter afirmado que vai ¿unir o mundo¿ para enfrentar a ambição nuclear iraniana, o governo de Teerã respondeu à altura. Declarou que o Ocidente cometerá um ¿erro histórico¿ se levar o país ao Conselho de Segurança da ONU, o que está previsto para acontecer hoje, na reunião emergencial do Conselho de Governadores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Em seu discurso anual do Estado da União, Bush declarou que ¿as nações do mundo não devem permitir que o regime iraniano consiga armas nucleares¿, ressaltando que os EUA seguirão com o objetivo de unir a comunidade internacional contra tais ameaças.

¿ O Irã é refém de uma pequena elite clerical que isola e reprime seu povo ¿ disse o presidente. ¿ O regime apóia terroristas nos territórios palestinos e no Líbano. Isso deve acabar ¿ disse.

O homólogo iraniano deu o troco:

¿ O povo do Irã não renunciará a seu direito após as ameaças de alguns países arrogantes. A energia nuclear é um direito indiscutível ¿ disse Ahmadinejad, diante de milhares de iranianos, durante uma visita à central atômica de Busheir, no 27º aniversário da revolução xiita que derrubou o xá Mohamad Reza Pahlevi. O presidente ainda chamou Bush de ¿instigador da guerra¿ e reiterou que o programa nuclear é pacífico.

Ahmadinejad referiu-se aos EUA como um país ¿com as mãos manchadas com o sangue dos povos, que assassinam inocentes e mataram mais de 40 milhões de pessoas na II Guerra¿. E afirmou que os ocidentais tratam a questão nuclear com uma ¿mentalidade medieval¿.

¿ Os ocidentais vivem com seus sonhos expansionistas de 200 anos atrás, e suas medidas a respeito do Irã não afetarão nossa decisão ¿ prometeu. ¿ Aqueles que têm arsenais com armas nucleares e biológicas se opõem a nossas pesquisas e acham que o povo iraniano respeitará seus pontos de vista.

Já o embaixador iraniano na AIEA, Ali-Asghal Soltanieh disse, em Viena, que o Irã precisa de 30 toneladas de combustível nuclear por ano para a usina energética de Busheir, no Sul do país. O diplomata não confirmou, no entanto, se a planta está sendo erguida pela Rússia, que se comprometeu a entregar o combustível e a retomá-lo depois de usado, a fim de evitar desvio do material para atividades militares.

Segundo Soltanieh, as informações incluídas no relatório da AIEA, entregue terça-feira, não justificam levar o caso ao Conselho de Segurança da ONU.

¿ O trabalho da AIEA vai ser tomado como refém, o que significa que o multilateralismo será seqüestrado pelo unilateralismo ¿ disse Soltanieh, destacando que Teerã continua interessado na iniciativa de Moscou de formar uma sociedade em território russo para enriquecer urânio.

No entanto, no relatório que será discutido hoje, os inspetores afirmam que o único propósito das instalações é a produção de armas. Ontem, uma minuta da resolução que deve ser aprovada pela executiva foi enviada aos países do Conselho de Governadores da AIEA pelos representantes que negociaram com o Irã.

O rascunho foi emendado a pedido da Rússia, que sugeriu a supressão de referência a medidas punitivas. O texto pede que o diretor-geral da AIEA, Mohamed El Baradei, informe ao Conselho de Segurança da ONU sobre os descumprimentos do Irã.