Título: Europa lembra mortos do nazismo
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Fonte: Jornal do Brasil, 28/01/2006, Internacional, p. A9

AUSCHWITZ - Sessenta e um anos após a libertação de judeus do campo de Auschwitz, a Europa lembrou ontem os seis milhões de mortos nos campos de concentração nazistas n II Guerra. A iniciativa se inscreve nas cerimônias do primeiro dia mundial dedicado à memória das vítimas do Holocausto, proclamado no ano passado pela Assembléia Geral das Nações Unidas. A data coincide com a libertação do campo de Auschwitz, no sul da Polônia, em 1945. Centenas de sobreviventes se reuniram sob uma temperatura glacial em Birkenau, a usina da morte do complexo de Auschwitz.

Segundo historiadores, um milhão de judeus e 130.000 outras pessoas, entre homossexuais, testemunhas de Jeová, ciganos e adversários políticos foram assassinados entre 1942 e 1945, nas câmaras de gás.

- Auschwitz é o maior cemitério europeu onde não há tumbas. É muito mais importante preservar a memória do que aconteceu aqui (...), mantê-la viva para as próximas gerações, em homenagem às vítimas e como uma advertência a um mundo ainda mergulhado no ódio e na violência - declarou o primeiro-ministro polonês Kazimierz Marcinkiewicz.

- A lembrança é a melhor resposta para aqueles que afirmam que o Holocausto é uma invenção ou um exagero - declarou, por sua vez, o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, em mensagem divulgada à imprensa em Genebra.

Em Berlim, capital do Reich de Adolf Hitler onde os nazistas decidiram, em janeiro de 1942, exterminar toda a população judaica da Europa, políticos se reuniram no Bundestag, a Câmara Baixa do Parlamento.

- As últimas semanas nos mostraram até que ponto temos necessidade deste momento, não somente nós alemães - disse Norbert Lammert, presidente conservador da Casa, em alusão às recentes declarações do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, duvidando da veracidade do Holocausto.

Em Varsóvia, um bonde histórico, idêntico ao que passava nos guetos de Varsóvia entre 1940 e 1943 com a estrela de David em lugar do número, percorreu as ruas da cidade.

- É um bonde no qual ninguém sobe e ninguém desce. Ele deve lembrar os judeus mortos - explicou Golda Tancer, da Fundação Shalom, organizadora do projeto inédito.

A poderosa Igreja Católica polonesa pediu aos fiéis que acendessem uma vela em suas janelas. Na Estônia, invadida pela Alemanha em 1941, o governo divulgou um pedido de desculpas pelos estonianos que participaram do massacre de 10.000 judeus durante a ocupação nazista. Na Lituânia, uma cerimônia foi realizada no campo de Paneriai, onde 100.000 pessoas, em grande maioria judeus, foram mortas. Em Belgrado, onde 5.000 judeus e ciganos foram mortos no campo de Topovske, o primeiro-ministro sérvio Vojislav Kostunica inaugurou um monumento.

- Devemos lutar contra todo tipo de intolerância, de segregação racial, religiosa ou nacional e todo tipo de exclusão - disse Kostunica, cujo país participou nos anos 90 de uma guerra civil na antiga Iugoslávia. Cerimônias oficiais também foram realizadas em Praga, Madri, Estocolmo, Oslo e Helsinki.