Título: O nacionalista se despede do BNDES
Autor: Marcelo Kischinhevsky
Fonte: Jornal do Brasil, 19/11/2004, Economia & Negócios, p. A-17

O bloco Minerva Assanhada, que reúne professores, funcionários e alunos da Universidade Federal do Rio de Janeiro, terá um reforço de peso no próximo carnaval. O economista Carlos Lessa, que trocou a reitoria da UFRJ pelo comando do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, deixou ontem o cargo depois de quase dois anos de divergências públicas sobre a política econômica. Folião emérito, nacionalista convicto e polemista sem papas na língua, Lessa dará lugar ao titular da pasta do Planejamento, Guido Mantega, numa troca que acelera a dança das cadeiras na Esplanada dos Ministérios. O professor - peemedebista de carteirinha, mas indicado pela economista Maria da Conceição Tavares, representante do PT histórico - mudou a face do BNDES. Sua gestão foi marcada por paixões e ódios. Lessa buscou incutir nos funcionários do maior banco de fomento da América Latina, com R$ 60 bilhões previstos em seu orçamento para 2005, sua visão desenvolvimentista. Trocou o MBA na PUC-RJ para funcionários por um curso de macroeconomia na UFRJ.

Reformulou a estrutura da instituição, extinguindo diversos cargos de chefia e remanejando antigos funcionários ligados ao tucanato, chamados nos corredores da sede da Avenida Chile de ''viúvas do antigo regime''. Seu objetivo expresso era acabar com o ranço de banco de investimento e reforçar o BNDES como um instrumento de desenvolvimento nacional, atuando em setores estratégicos da economia. Em seu último dia de trabalho, liberou R$ 841 milhões em empréstimos para projetos industriais de empresas como Companhia Brasileira de Alumínio e Gerdau.

Lessa cansou de ironizar os boatos sobre sua demissão, vangloriando-se do fato de ''estar na cota do presidente Lula''. Na avaliação de integrantes do governo e de funcionários do próprio banco, no entanto, o professor não caiu por conta de seus atritos com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ou de seu superior hierárquico, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan. Lessa acabou deixando o cargo por exagerar no tom das críticas - na semana passada, classificou a política de juros altos do BC de ''desastrosa'' - e por não conseguir apoio às suas propostas de maior intervenção na economia e de estímulo ao setor produtivo mediante reduções drásticas da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP, que corrige os empréstimos do BNDES).

Com isso, o Rio perde seu único representante no primeiro escalão do governo Lula. E o BNDES fica sem seu presidente mais nacionalista em mais de duas décadas.