Título: Voluntária desde a faculdade
Autor: Florença Mazza e Waleska Borges
Fonte: Jornal do Brasil, 28/01/2006, Rio, p. A12

Mesmo aposentada, a médica Glória Freitas de Andrade, 56 anos, não parou de atender pacientes. Depois de 30 anos de dedicação à medicina, ela ainda precisa trabalhar no consultório particular para engrossar a aposentadoria de R$ 1.600 concedida pelo governo. Mãe de duas filhas e divorciada, a médica sobrevive com o dinheiro do trabalho, mas, apesar do esforço, ela ainda reserva espaço na agenda para o voluntariado. Integrante da organização não-governamental Médicos Solidários, a especialista em ginecologia faz atendimentos gratuitos no próprio consultório. Espirutualista, a médica faz uma constatação: ''a vida não é fácil''. Por isso, ela também faz consultas populares para quem já não tem mais o plano de saúde. Nestes casos, a paciente paga R$ 40 pela consulta - que custa em média R$ 100. Segundo a médica, ela recebe dos convênios R$ 35 por atendimento.

- São pessoas carentes que têm necessidade de assistência médica. Por isso, compartilho como posso e fico feliz em poder ajudar de alguma forma- justifica Glória.

O trabalho voluntário acompanha a médica há muitos anos. A vontade de ajudar pessoas que não podem pagar pela consulta, conta Glória, floresceu no tempo em que ela ainda dava plantões em hospitais e postos de saúde públicos. Durante os atendimentos, ela via a carência da rede de saúde. Segundo a médica, quando começou a atender nas favelas, ela não recebia nem a gasolina do carro.

Glória já trabalhou de graça em postos montados por associações religiosas em favelas em Nova Iguaçu e Vila Isabel. A médica também já foi voluntária na rede de solidariedade França/Brasil. Dos tempos em que atendia nas comunidades carentes, ela lembra que muitos pacientes não compareciam às consultas por falta de consciência com a própria saúde. Para ela, ainda falta mais divulgação junto à população sobre os serviços oferecidos por voluntários.