Título: Sem Natal e Ano Novo por opção própria
Autor: Florença Mazza e Waleska Borges
Fonte: Jornal do Brasil, 28/01/2006, Rio, p. A12

Chefe do setor de cirurgia plástica de um hospital municipal, H., 41 anos, está sempre atenta aos atendimentos de emergência que a unidade recebe diariamente. A médica, com 18 anos de profissão, conta que passou várias datas comemorativas trabalhando. Muitas delas, no Natal e Ano Novo. Em suas contas, em pelo menos cinco viradas de ano que passou no hospital, não estaria oficialmente de plantão. - Todas as vezes que fui para o hospital, quando estava fora de plantão, fui por vontade própria. Ou era porque os médicos no plantão faltaram ou porque o número de profissionais não era suficiente - explica a médica.

Apesar de se oferecer para trabalhar fora do seu horário, ela não recebe extra pelo serviço:

- Vou porque acho que tenho que ajudar. Também penso que é minha obrigação já que tenho um cargo de chefia - justifica.

Ela conta que também já atuou como voluntária, ainda estudante de medicina, quando um edifício pegou fogo no Centro da cidade. De acordo com H., em situações de incêndios e acidentes, é comum que médicos liguem para os hospitais oferecendo seus serviços aos colegas de plantão.

- Eles perguntam se está tudo bem e se oferecem para trabalhar mesmo sem ter qualquer obrigação - conta H.

Não foram poucas as vezes também que ela pagou do próprio bolso medicamentos e insumos, como gaze ou algodão, para os pacientes do hospital.

Médico há 30 anos, Jorge Darze, que também é presidente do Sindicato dos Médicos do Rio (SinMed), acredita que a solidariedade motiva os profissionais de saúde a continuar com trabalho voluntário para pessoas carentes. Segundo ele, muitos profissionais se sentem realizados com a filantropia fora do horário de trabalho.

- Os princípios que motivam os médicos a operar na desgraça são a ética e a solidariedade. Por isso, os doutores continuam com o trabalho voluntário mesmo que não tenham qualquer recompensa - acredita Jorge Darze.