Título: Jobim no olho do furacão
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 02/02/2006, País, p. A3

Na abertura dos trabalhos do Judiciário, presidente do STF é questionado por magistrados e representantes da sociedade civil

No dia da abertura solene dos trabalhos do Judiciário, o foco das atenções foi o presidente do mais importante tribunal do país. Juristas e personalidades de diversas áreas decidiram interpelar judicialmente Nelson Jobim para que ele se defina: ou nega a condição de pré-candidato a cargo político ou deve renunciar imediatamente ao posto no Supremo Tribunal Federal. Mais um capítulo de um enredo que se desenrola em torno de um tema central: o político estaria engolindo o jurista nas decisões em série impedindo a quebra de sigilos de pessoas e instituições acusadas de envolvimento no escândalo do mensalão e correlatos. Ontem, antes do encontro amistoso com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Jobim , na quinta decisão seguida, impediu mais uma quebra de sigilo: o beneficiário ¿ pela segunda vez ¿ foi o empresário Roberto Carlos da Silva Kurzweil, dono da locadora de carros de luxo blindados supostamente utilizados numa operação para transportar dólares que teriam sido enviados de Cuba para campanhas políticas do PT, em 2002. Fato suficiente para aumentar a ira da oposição, ainda não refeita da mais polêmica decisão de Jobim: suspender a quebra de sigilo de Paulo Okamotto, presidente do Sebrae e amigo de Lula, que teria pago do próprio bolso uma dívida que o presidente contraíra com o PT. Tudo estaria convergindo ¿ acusam os oposicionistas ¿ para atrasar as investigações e dar uma ajuda providencial ao Planalto. A reação de Jobim veio no mesmo tom: afirmou estar sendo vítima de ¿patrulhamentos¿, apenas por decidir conta a ¿suposta vontade da opinião pública¿, o que significaria estar sujeito a toda sorte de ¿ilações injustas¿.

As palavras do presidente do STF aparentemente provocaram um recuo do presidente da CPI dos Bingos, Efraim Morais, que desistiu de fazer, de imediato, um novo requerimento de quebra de sigilo de Okamotto. Isto poderia ser interpretado como uma ¿afronta¿ a Jobim, justificou-se. Apontado como um dos pretendentes do PMDB ao Planalto ¿ ou um provável vice na chapa de Lula ¿, o jurista e político deve deixar o cargo em março e voltar à arena onde já se destacou por outras atitudes polêmicas, como a de ter participado, quando deputado pelo Rio Grande do Sul, de uma articulação que incluiu no texto final da Constituição de 1988 dois artigos não votados pela Assembléia Nacional Constituinte.