Título: Senador denuncia pressão para modificar parecer
Autor: Daniel Pereira e Fernando Exman
Fonte: Jornal do Brasil, 26/01/2006, País, p. A2

No primeiro ensaio de ''acordão'' na CPI dos Bingos, oposição e governo negociam para livrar dois ex-presidentes da Caixa Econômica Federal e o atual titular, Jorge Mattoso, da acusação de crime contra licitação, prevaricação e improbidade administrativa no caso GTech. Devido à tentativa, a votação do relatório do senador Garibaldi Alves (PMDB-RN) sobre o caso foi adiada de ontem para terça-feira.

A CPI foi apelidada por governistas como a do ''fim do mundo'' por investigar diversas acusações contra o governo do PT, incluindo amigos do presidente Lula.

Garibaldi, relator da CPI, disse que recebeu pressão para acertar mudança no relatório sobre o caso GTech, apresentado na semana passada, mas não cedeu.

- Não posso dizer que há isso de acordo. Vou apenas colocar em votação. Mas digo que se houver empate, voto com o relator - afirmou Efraim Morais (PFL-PB), presidente da CPI.

A principal acusação no relatório é a de que houve pagamento de propina em abril de 2003 para renovação do contrato entre a multinacional GTech e a Caixa para a exploração de loterias. Uma das suspeitas é que o dinheiro tenha ido ao caixa dois do PT. Ainda conforme o relatório, teriam sido pagos à GTech - de 1997 a 2004 - R$ 556 milhões a mais do que o devido.

Segundo a Caixa, o relatório é ''instrumento político-eleitoral''. A GTech diz que não houve pagamento de propina ou prejuízo à estatal. A multinacional tem contrato com a Caixa desde 1997.

Além de Mattoso, o relatório acusa os ex-presidentes da Caixa no governo passado, Sérgio Cutolo (de 1995 a 1999) e Emílio Carazzai (1999 a 2002). Todos negam irregularidades. Garibaldi apontou conduta criminosa de outras 31 pessoas e três empresas, incluindo a GTech. Na lista está ainda Ademirson Ariovaldo da Silva, assessor do ministro Antônio Palocci Filho (Fazenda).

A sessão de ontem da CPI, entre titulares e suplentes, contou com a presença de 18 senadores, um recorde.

Articulador do governo na CPI, o senador Tião Viana (PT-AC) buscou no PMDB apoio para tentar derrubar ou mudar o relatório, se houvesse votação.

O senador Valdir Raupp (PMDB-RO) apresentou sete emendas. A última delas pede a retirada da acusação contra Mattoso e três assessores da estatal no governo Lula.

A sexta emenda quer a supressão do item onde são descritos os supostos prejuízos de R$ 556 milhões para Caixa desde 1997 com o contrato com a GTech. Na prática, essa exclusão inocenta Cutolo e Carazzai.