Título: Cenas de pressão explícita
Autor: Mariana Santos
Fonte: Jornal do Brasil, 26/01/2006, País, p. A3

Ficou para hoje a decisão do Conselho de Ética da Câmara sobre o processo que pede a cassação do deputado Roberto Brant (PFL-MG). Manobras e indícios de acordão acabaram adiando a votação. O relatório apresentado pelo deputado Nelson Trad (PMDB-MS) pedindo a perda do mandato do pefelista seria votado ontem. O placar promete ser bastante apertado. O PFL, com a adesão do PSDB, vem trabalhando para livrar Brant da guilhotina. Tudo indica que o voto de Minerva cairá para o presidente do Conselho, Ricardo Izar (PTB-SP), que decide em casos de empate.

Apesar de não declarar abertamente a opção, Izar tende a acompanhar o voto do relator. Ou seja, pedir a cassação no processo que seguirá para o plenário. Brant é acusado de fazer caixa dois com R$ 102,8 mil, dinheiro sacado das contas da agência de publicidade SMPB para financiar campanha à prefeitura de Belo Horizonte em 2004.

O dinheiro, segundo Brant, era fruto de uma doação da Usiminas. A empresa teria feito o repasse pela agência de Marcos Valério, suposto operador do mensalão.

O cheiro de acordão estava no ar . Boa parte da bancada pefelista apareceu na sessão de ontem: líderes do partido, como Rodrigo Maia (RJ) e José Carlos Aleluia (BA), das minorias, além de outros importantes nomes da legenda como Pauderney Avelino (AM), Antônio Carlos Magalhães Neto (BA) e Eliseu Rezende (MG), presidente regional da legenda. Do lado dos tucanos, a articulação ficou por conta do líder Alberto Goldman (SP). Ele garantiu a presença dos dois integrantes do partido na sessão ¿ Gustavo Fruet (PR) e Bosco Costa (SE), suplente de Carlos Sampaio (SP), em viagem ao exterior.

O deputado Pedro Canedo (PP-GO) foi o protagonista da primeira manobra do dia, que acabou adiando a votação. Pela manhã, o relator Nelson Trad abriu a sessão afirmando que o deputado goiano o havia procurado ¿excessivamente nervoso, quase chorando¿. Canedo teria denunciado que estava sendo pressionado pela direção de seu partido para votar contra o processo de cassação. Canedo teria dito que não teria condições de aparecer no conselho. Após a denúncia, a sessão foi suspensa e reaberta às 15h.

Canedo reapareceu à tarde e deu outra versão. Disse que lhe foi sugerido por interlocutores do PP que aguardasse o término da reunião da bancada, quando foi discutida a verticalização, para comparecer à sessão no Conselho.

No entanto, nos bastidores comentava-se ainda uma terceira versão: a de que dirigentes pefelistas e até a ala mineira do partido fizeram uma dura pressão na noite anterior sobre Canedo, que poderia emitir o voto decisivo contra a cassação. O PP de Canedo tem três nomes na lista de cassações ¿ o líder José Janene (PR), o presidente da legenda, Pedro Corrêa (PE), e o ex-líder Pedro Henry (MT). O apoio do PFL no Conselho ou mesmo no plenário pode ser fundamental para salvar um mandato. Canedo negou as pressões. Rodrigo Maia, também.

¿ Mas fico feliz que o Maia tenha dito que posso andar com as próprias pernas ¿afirmou Canedo.

O presidente da CPI avaliou que falhou a primeira tentativa prática de fazer valer o acordão:

¿ Não há acordo. Não tem como um acordão dar certo aqui no conselho. Vamos apurar as denúncias. Quem fez a pressão sobre o deputado Pedro Canedo (PP-GO) será denunciado não só no conselho, mas na tribuna da Casa.