Título: Partidos ficam livres para qualquer aliança nas eleições
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 26/01/2006, País, p. A4

A Câmara aprovou no início da noite de ontem por 343 votos a 143 e uma abstenção a emenda à Constituição que acaba com a regra da verticalização. Com o resultado, as alianças partidárias nos estados não precisarão obedecer a lógica nacional. A vontade expressa do Palácio do Planalto, favorável ao fim da verticalização, e o trabalho árduo dos líderes na colheita de votos foram fundamentais para a construção de maioria no plenário da Câmara. Eram necessários, no mínimo, 308 de um total de 513 votos para que a Câmara dos Deputados aprovasse o fim da regra da verticalização. Para que possa ser promulgada pelo Congresso, a proposta precisa ainda ser votada em segundo turno na Câmara, sem alterações no conteúdo.

Apesar da vitória do Planalto, até às 20h30 de ontem os partidos favoráveis ao fim da verticalização não estavam seguros da aprovação da proposta. Parte da bancada do PFL, em consonância com a vontade do senador Antonio Carlos Magalhães (BA), PP, PSDB e a maioria dos deputados do PT ¿ na contramão do que defendeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ¿ apoiaram a manutenção da norma. Lutaram até o último minuto para jogar areia na articulação do governo pela aprovação.

A votação da verticalização foi adiada duas vezes no mesmo dia, na tentativa de conseguir margem segura para a aprovação.

Acordo costurado no plenário inverteu a pauta do dia, colocando o polêmico projeto de lei da Super-Receita na frente da verticalização, para garantir mais tempo de negociação em torno da Proposta de Emenda Constitucional (PEC).

Lula torceu pela aprovação do texto porque, além dos palanques do PT, poderá contar nos estados com apoio dos demais partidos da base governista, inclusive de parte do PMDB.

Na tarde de ontem, em conversa no Palácio do Planalto, Lula e o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), haviam contabilizado cerca de 320 votos em favor da derrubada da regra. Segundo Renan, o presidente voltou a reforçar o que disse terça-feira na reunião com líderes governistas: não é contra o fim da verticalização.

¿ Não quero ninguém em meu palanque forçado pela lei ¿ tem repetido Lula todas as vezes que conversa sobre o assunto.

Dele partiu a orientação para que o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP) tentasse reverter a orientação da bancada sobre a proposta. Durante a semana, Renan conversou sobre o assunto com o PTB e o PFL e com setores do PSDB. As conversas, segundo o senador, reforçaram o fim do que ele chamou de ¿camisa de força¿.

Nos últimos dias, o governo ganhou um adversário inesperado na disputa pela aprovação da emenda. O senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA). De olho na eleição na Bahia, ACM desencadeou pesada articulação no PFL contra a derrubada da verticalização.

O senador quer que o PSDB baiano, que deixou a aliança com o PFL no estado para lançar ao Senado o ex-prefeito de Salvador Antônio Imbassahy, fique impedido de montar uma chapa com o ministro da Coordenação Política, Jaques Wagner, do PT, pré-candidato ao governo. Como PSDB e PFL devem fechar uma aliança no plano nacional, a manutenção da verticalização inviabilizaria a dobradinha Wagner e Imbassahy.