Título: Diáspora gera ressentimento em Beirute
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Fonte: Jornal do Brasil, 26/01/2006, Internacional, p. A6

Uma mistura de esperança e tristeza marcou o dia de ontem nos campos de refugiados palestinos no Líbano, onde seus habitantes vêem o pleito como ''um passo importante'' do qual eles se sentem excluídos. Os cerca de 400 mil refugiados nos 12 acampamentos existentes no Líbano, como os 6 milhões de palestinos que vivem fora de sua terra, não podem votar nas eleições para um novo Parlamento.

Apesar de sua exclusão, a maioria se reuniu em volta de rádios e das televisões para acompanhar o dia que, segundo Zuheir Natur, porta-voz da Frente Democrática para a Libertação da Palestina (FDLP), constituiu ''um passo crucial em nossa vida política''.

- São as primeiras eleições que se realizam na ausência de Yasser Arafat (o falecido líder histórico dos palestinos) e na qual não haverá um partido único no poder - lembra.

Segundo Natur, o pleito provocará uma ''transformação na vida política e levará à criação de nosso Estado''.

- Vai permitir a continuação do processo democrático na Palestina, o que impulsionará os israelenses a reconhecer seus representantes e não impor atos, mas negociar com eles - observou.

Mas o otimismo pela possibilidade de uma mudança não oculta a decepção que representa para os refugiados sua alienação do processo.

- Os membros da diáspora, que representam dois terços do povo palestino, foram excluídos - lamenta-se. - Os palestinos, estejam dentro ou fora dos territórios, devem ser tratados do mesmo modo. E os responsáveis devem democratizar o sistema para que o pleito englobe todos.

As eleições realizadas ontem se baseiam nos acordos de Oslo de 1993, que não contemplam a participação dos refugiados.

Outros membros da diáspora concordam com o argumento de Natur e, apesar de reconhecerem a importância das eleições, consideram injustiça sua exclusão do processo.

- É como se quisessem dividir os palestinos para que nunca possam formar um Estado e que os refugiados não possam retornar à Palestina - afirmou Abu Rachid, um refugiado do campo de Ain El Helu, perto de Sidon e o maior do Líbano.

Para a FPLP, a Europa cometeu um grave erro ao ameaçar interromper o envio de ajuda aos palestinos no caso de o Hamas sair vitorioso do pleito, considerando uma ''ingerência ao mostrar sua preferência por uma parte, o que os palestinos rejeitam''.