Título: Gestão de Lessa divide opiniões
Autor: Samantha Lima, Mariana Carneiro e Dimalice Nunes
Fonte: Jornal do Brasil, 19/11/2004, Economia & Negócios, p. A-19

A gestão marcada por polêmicas estendeu-se às divergências de opiniões sobre a saída de Carlos Lessa da presidência do BNDES. Para o economista e ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola, o BNDES não vinha cumprindo sua função. - É um modelo saudosista, com ranço nacionalista de estatal - criticou.

O sócio-diretor da Consultoria Tendências e ex-ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega, criticou a demora na demissão.

- O governo Lula tem duas bandas: uma competente, que está à frente da economia e da política, e outra que ainda acha que o Brasil será socialista. Lessa faz parte desta, a banda B.

Já o diretor do Instituto de Economia da UFRJ, João Sabóia, considerou ''lamentável'' a demissão do professor.

- Lessa representava desenvolvimento, crescimento e compromisso com a economia nacional, claramente em oposição à política macroeconômica conservadora - disse.

Também economista da UFRJ, Reinaldo Gonçalves acredita que razões políticas explicam a saída de Lessa. E que as críticas à política monetária seriam até bem vistas pelo presidente Lula, que teria no professor a representação do desenvolvimentismo no governo.

- A vinda de Mantega e a presença de um novo ministro no Planejamento me parecem situações provisórias. Lula quer ganhar tempo para elaborar melhor uma reforma ministerial que diminua o desgaste das eleições. Esses cargos devem ser utilizados para atrair o apoio de PMDB e PFL - aposta.

Para Roberto Setubal, presidente do Banco Itaú, a nomeação de Mantega permitirá o alinhamento com a política macroeconômica do governo, o que não ocorria com Lessa.

Estudioso de política industrial, o economista Arilton Teixeira, do Ibmec, disse que Lessa é ''cartelizador''.

- Ele vem de uma escola que prega a concentração de mercado. Só que o máximo que o modelo permite é aumento dos preços e proteção de empresas ineficientes - comentou.

Segmentos do setor de infra-estrutura elogiaram a atuação de Lessa. Para o presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada (Sinicon), Luiz Fernando Santos Reis, os financiamentos à exportação garantiram uma alternativa aos setores produtivos.

- Mas esperamos que haja flexibilização nos financiamentos voltados ao mercado interno - disse Reis, que estudou com Lessa, sobre quem comentou que ''às vezes, fala demais''.

O presidente da Associação Brasileira de Infra-Estrutura e Indústria de Base (Abdib), Paulo Godoy, acredita que o professor tenha fortalecido o banco.

- Foram promovidas mudanças especialmente na parte operacional. O setor de infra-estrutura foi beneficiado com mais recursos este ano.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Newton de Mello, por sua vez, teme ''um ataque à função do BNDES''.