Título: FH preocupa ''serristas'' e deixa petistas irritados
Autor: Fernando Nakagawa
Fonte: Jornal do Brasil, 06/02/2006, País, p. A2

BRASÍLIA - Declarações do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso geraram reações diversas: entre os petistas, irritação com o tom crítico do ex-presidente que acusou Lula de ter sido omisso diante das denúncias de corrupção no governo. Já no PSDB, pesou, principalmente entre os ''serristas'', a afirmação de FHC de que a disputa interna para as eleições presidenciais estaria ''mais fácil'' para o governador Geraldo Alckmin. No fim de semana, a revista IstoÉ trouxe entrevista com o ex-presidente que atacou Luiz Inácio Lula da Silva e reforçou a tese de que o PSDB vai ter de ''bater forte'' nas próximas eleições. Para FH, Lula ''é um símbolo declinante, uma estrela cadente'' frente às denúncias de corrupção.

''Se não sabe do que se passa, é porque está comendo mosca. Aliás, deve ter ficado viciado em comer moscas'' - disse o tucano.

Para os petistas, FHC revela a preocupação da oposição com a popularidade Lula, que aumentou em pesquisa Datafolha, também divulgada no fim de semana.

- Como eles têm de enfrentar esse governo nas urnas, inventam e atacam - disse o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP). - A possibilidade iminente de derrota faz ele (FH) reagir. Quando estão vendo que perdem terreno, as pessoas entram em parafuso - completou José Eduardo Cardozo (PT-SP).

Para ele, a oposição escolheu mal o ''canhão'' para atacar o governo.

- Afinal, FH tem um passivo que não legitima qualquer crítica. Ele deve ter tido é uma indigestão de tanto comer mosca nos oito anos de seu governo - rebateu.

Chinaglia compara os dois governos.

- Seria mais apropriado FH pensar no que fez em seu próprio governo e trilhar um caminho civilizado. Espero que a campanha fique nos limites do apropriado.

Na entrevista, FHC tratou da disputa no partido para a escolha de um candidato à presidência: ''Vamos escolher quem tiver mais chances de derrotar Lula'' - disse o ex-presidente.

Oficialmente, tucanos avaliam que a entrevista não revela preferência por Alckmin ou Serra, mas reforça a tese de que pesquisas vão nortear a escolha do candidato tucano.

- A entrevista foi a maior prova de que o ex-presidente não se inclina a nenhum dos dois - comenta o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). Para ele, FH enterra a avaliação da imprensa de que ele estaria trabalhando internamente para um ou outro candidato.

O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) faz coro:

- O partido precisa ver quem é mais forte pelas pesquisas. É preciso analisar todas as questões como os pontos fortes e fracos de cada um e o efeito de uma possível renúncia de Serra.

Esse tom oficial apaziguador não é visto nos bastidores entre os aliados de Serra. A declaração de FHC de que o prefeito paulistano pode provocar um ''buraco negro'' ao deixar o cargo trouxe certo mal-estar aos que apóiam Serra.

O clima entre os serristas, no entanto, mudou em poucas horas. Logo depois de a entrevista chegar às bancas, pesquisa Datafolha trouxe números que reforçam a pré-candidatura de Serra, ao revelar condição bem mais competitiva que a de Alckmin.

Com os números em mãos, ''serristas'' minimizaram a avaliação de FH. Para o grupo que apóia o prefeito paulistano, mas não ataca o ex-presidente - apesar de o governador gozar de situação favorável por estar em fim de mandato - os números podem dar um novo gás para Serra.

- A pesquisa mostra que há uma candidatura bem mais competitiva que a outra. Isso é claro pelos números e mostra que não adianta tentar ganhar espaço a força - diz um dos principais nomes do partido.

Ontem, na periferia paulistana, durante inauguração de centro comunitário, o governador disse ter ficado ''surpreso'' com os 20% do Datafolha. Geraldo Alckmin afirmou que esperava pontuação inferior.