Título: Protestos contra Europa se alastram
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Fonte: Jornal do Brasil, 06/02/2006, Internacional, p. A7

BEIRUTE - Ontem foi a vez de o Líbano viver um dia de protestos contra a publicação na Europa das caricaturas do profeta Maomé. Em Beirute, manifestantes incendiaram o consulado da Dinamarca e os enfrentamentos com a polícia deixaram pelo menos 28 feridos, no dia seguinte à destruição das embaixadas dinamarquesa, norueguesa e chilena na capital síria.

Pela manhã, milhares de manifestantes se dirigiram ao bairro cristão de Achrafiyé, onde fica Consulado da Dinamarca, e atearam fogo ao prédio. Mais cedo, destruíram lojas e incendiaram carros.

O grupo foi reprimido a 200 m do prédio, mas alguns conseguiram furar o bloqueio. Segundo a imprensa local, os diplomatas europeus tinham saído de Beirute um dia antes.

''Não existe nada além de Deus e Maomé é seu profeta'', dizia um dos cartazes. Um grupo denominado Movimento Nacional para Defesa do profeta Maomé coordenava a manifestação.

Como medida de segurança, o ministério das Relações Exteriores de Copenhague pediu que seus cidadãos deixem o Líbano. O escritório havia feito o mesmo pedido no dia anterior para os residentes da Síria.

O primeiro-ministro libanês, Fuad Siniora, por sua vez, condenou os atos de violência e responsabilizou, sem citar nomes, os ''grupos que tentam semear a discórdia''.

- As forças de ordem não cederão e exigem a dispersão rápida dos manifestantes. Eles estão prejudicando o Islã - disse.

No Iraque, o ministro dos Transportes, Salam al Maliki, anunciou o congelamento de todos os contratos de reconstrução do país com a Dinamarca e a Noruega.

- Estamos protestando contra as caricaturas. Não vamos aceitar qualquer dinheiro desses países - disse um porta-voz. Além de contribuir financeiramente, a Dinamarca tem cerca de 500 soldados no Iraque.

Já o Exército Islâmico, grupo iraquiano responsável pelos seqüestros de vários jornalistas europeus, também ameaçou atacar os interesses dos países europeus cujos jornais publicaram as charges. Segundo um comunicado publicado na internet, os militantes têm como alvo Dinamarca, Noruega, Alemanha, França, Holanda e Espanha. A organização mandou igualmente ''que todos os mujahedines (guerreiros) capturem e despedacem os dinamarqueses''.

Em Istambul, Turquia, a polícia conseguiu frear cerca de mil manifestantes que se aproximavam do consulado dinamarquês da cidade. Um porta-voz dos militantes leu um comunicado, declarando que ''a atitude dos Estados europeus em relação aos valores comuns da humanidade é arrogante ''.

Na Europa, a retaliação veio também da Liga Árabe Européia (LAE), uma organização de defesa dos direitos das comunidades árabes e muçulmanas na Europa. A organização reagiu às caricaturas do profeta com a publicação de charges anti-semitas em seu site.

A iniciativa faz parte de uma campanha lançada sexta-feira, quando foi anunciada a ''publicação sistemática de desenhos ousados para romper tabus e cruzar todas as linhas vermelhas, âmbito em que, decididamente, não queremos ficar para trás'', segundo uma declaração da LAE.

Entre os desenhos publicados no site, um mostra Hitler na cama com Anne Frank.

''Após a lição que árabes e muçulmanos receberam dos europeus sobre liberdade de expressão e tolerância, e depois de muitos jornais europeus terem voltado a publicar as charges dinamarquesas do profeta Maomé, a Liga decidiu entrar no processo e fazer uso de seu direito à expressão artística'', justificou a organização, em comunicado.

Além disso, ressalta que ''da mesma forma que os jornais europeus afirmam que não querem estigmatizar os muçulmanos, nós também ressaltamos que nossos desenhos não pretendem ofender ninguém e não devem ser interpretados como uma declaração contra nenhum grupo, comunidade ou fato histórico''.