Título: Brasília pode ter mais clubes vizinhança
Autor: Lígia Maria
Fonte: Jornal do Brasil, 06/02/2006, Brasília, p. D3

Brasília deveria ter seis Unidades de Clube Vizinhança, mas possui apenas uma, a de número 1, na 108 Sul. Os outros cinco terrenos continuam vazios e à espera de solução para um dilema: a quem cabe a execução das obras, ao governo ou à comunidade? A alocação das áreas provoca outra discussão, sobre a medida em que a ausência dos clubes representa lacunas na história da cidade. Buscando equacionar esses problemas, as prefeituras das superquadras, a diretoria da Unidade Vizinhança Nº 1 (108 Sul) e representantes de órgãos governamentais relacionados ao patrimônio da cidade - como Administração de Brasília, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Divisão de Patrimônio da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Departamento de Patrimônio Histórico - se encontrarão nesta quarta-feira. Para o evento, a Companhia Imobiliária de Brasília (Terrcap) e a Administração de Brasília preparam a maquete de um clube, com a finalidade de sensibilizar as pessoas sobre a importância desses espaços.

- A Administração de Brasília quer encontrar entidades parceiras para transferir, pelo menos, o terreno da 104 Norte. Para isso, é necessário ser entidade organizada e apta a encampar a proposta - diz Renato Carvalho, chefe de gabinete da Administração de Brasília.

Carvalho explica que o governo já consultou a Procuradoria do Distrito Federal, para saber como pode ser feito o contrato de concessão de uso para o imóvel. Ele afirma ainda que convencer a comunidade a assumir a construção e a operação dos Clubes Vizinhança significa o resgate da importância deles para a história de Brasília.

- O Clube Vizinhança da 108 Sul é um capítulo especial na trajetória social e cultural da cidade - afirma Carvalho.

União - O professor Frederico Flósculo, do departamento de Arquitetura da Universidade de Brasília, explica que a proposta de Lúcio Costa para os Clubes Vizinhança era torná-los uma espécie de quintal das superquadras. Os clubes serviriam para a interação social, o lazer e o contato das pessoas com a natureza, como era a proposta original de cidades-parque. Caberia à comunidade a tarefa de concretizar esse conceito.

- Os brasilienses devem ter em mente que a falta de conclusão dessa proposta significa uma lacuna para o projeto de qualidade de vida idealizado pelo urbanista. Podemos dizer que esse capítulo da história de Brasília está incompleto - declara Frederico Flósculo.

Segundo Vera Ramos, chefe da Divisão Técnica do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), é antiga a idéia de que a comunidade se organize para administrar esses clubes. Ela conta que o clube da 108 Sul foi construído pelo governo para servir de exemplo para os moradores das demais superquadras.

- O clube é um equipamento que deve promover a unidade dos moradores. É a comunidade quem deve assumir esse processo - defende Vera Ramos.