Título: Eleição no Haiti abre portas para Aristide
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Fonte: Jornal do Brasil, 06/02/2006, Internacional, p. A12

PORTO PRÍNCIPE - A volta do Haiti para um sistema de eleição livre, amanhã, quando país o votará para escolher um presidente, pode não ser bem aceita pelo governo dos Estados Unidos, que fala em construir a democracia no mundo, afirmam analistas. Isso porque o líder nas pesquisas no caótico país caribenho é René Preval, pupilo do ex-presidente Jean-Bertrand Aristide.

Autoridades do governo Bush acusaram Aristide de despotismo, e muitos analistas em Haiti dizem que ele foi enfraquecido por Washington antes de ser retirado do poder em uma convulsão social, em fevereiro de 2004. Preval, presidente de 1996 a 2001 - entre dois mandatos de Aristide - não está concorrendo desta vez pelo partido de Aristide, o Lavalas. Mas disse não ver motivo para que o ex-líder continue em exílio na África do Sul.

- Seria catastrófico para a política dos EUA trabalhar tão duro para primeiro marginalizar e depois eliminar Aristide e então ver uma via eleitoral para um candidato dele ganhar o cargo - avaliou Larry Birns, diretor do Conselho de Assuntos Hemisféricos.

No momento em que o Haiti caminha para sua primeira eleição desde a saída de Aristide, o governo de George Bush mantém silêncio sobre o destino do país mais pobre das Américas. Washington deu pouco apoio visível à força de paz da ONU de 9 mil homens e rejeitou um pedido recente de empréstimo de helicópteros, feito pela equipe eleitoral da ONU, para recolher votos em áreas remotas.

Ciclos de intervenção e negligência são comuns na história ''esquizofrênica'' do relacionamento entre os EUA e o Haiti, lembrou Daniel Erikson, especialista em Caribe na instituição Inter-American Dialogue, de Washington. O capítulo mais recente é a denúncia do ex-presidente de que foi forçado a renunciar e retirado do país num avião americano, sem saber para onde seguiria. Os EUA e a ONU negam a versão.

O fato é que pouco melhorou desde que Aristide foi exilado, e a maioria de pobres parece não ter abandonado o apoio a candidatos associados ao ex-padre.

- Enquanto o eleitor viver com US$ 2 por dia, apelos populistas terão resposta no Haiti - apostou Erikson.

Lawrence Pezzullo, enviado especial ao Haiti durante o governo Clinton, acrescenta:

- O medo com Preval é que ele possa convidar Aristide de volta e, aí, não tem como prever o que possa acontecer. Se ele voltar, o país vai explodir.