Título: MST recua e deixa Conab em paz
Autor: Leandro Bisa
Fonte: Jornal do Brasil, 19/11/2004, Brasília, p. D-8

Os quase 600 sem-terra que invadiram, na madrugada terça-feira, os galpões da Companhia Nacional de Abastecimentos (Conab), recuaram ontem da disposição de se manter no local de qualquer forma. À tarde a Polícia Militar se preparou para cumprir a decisão judicial que garantia a reintegração de posse dos edifícios à Conab. Mas os líderes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra anunciaram que deixariam o local pacificamente, ainda ontem à noite. Ontem, os sem-terra exibiram vários galões de agrotóxicos, afirmando que existe grande quantidade desse produto estocado em um dos silos. E é proibido armazenar esse tipo substância nos galpões da Conab.

Foi temendo um desastre que a Polícia Militar resolveu agir com cautela. Segundo o comandante geral da PM, coronel Renato Azevedo, a área invadida, localizada no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), é de alto risco. Azevedo foi informado que vários produtos inflamáveis estão guardados na Conab. Além disso, um duto da Petrobrás passa exatamente no local. Um dos temores da Secretaria de Segurança Pública era que ocorresse um grande incêndio.

Às 18h45, quando terminou o prazo para desocupação da área, conforme determinou a Justiça Federal, os sem-terras já estavam com as malas prontas, aguardando apenas a chegada dos ônibus que os retirariam da área.

- O governo federal sinalizou que atenderia nossa pauta e resolvemos desocupar a área o mais rápido possível - disse, no início da noite, Valter Fragas, coordenador do MST, acrescentando que o governo garantiu R$ 2,5 milhões para comprar antecipada de parte da produção de cerca de 2 mil famílias assentadas.

Apesar da promessa de desocupar a Conab, até às 21h30 os invasores ainda estavam no local, todos próximos ao portão e, aparentemente, prontos para ir embora.

- Negociamos com a polícia. Eles ficaram de arrumar os ônibus para nos levar - disse Luciano Monteiro, outro coordenador do MST.

O oficial escalado para comandar a operação de desocupação da área, coronel Lobo Rodrigues, disse que a polícia estava pronta para agir hoje de manhã e só desmontaria a operação quando o último sem-terra saísse do local.

Soro e agrotóxicos - Segundo a Secretaria de Saúde, o estoque de soro de vários hospitais acabou. E, caso não consigam ter acesso ao estoque armazenado na Conab, logo cedo, milhares de pacientes ficarão sem o medicamento hoje. Sobre o agrotóxicos nos armazéns, a Conab não se pronunciou. A armazenagem desses produtos é proibida porque há risco de contaminação dos alimentos.