Título: Na conta do cliente
Autor: Samantha Lima
Fonte: Jornal do Brasil, 26/01/2006, Economia & Negócios, p. A17

A voracidade com que bancos promovem reajustes em suas tarifas - superando de longe a inflação, conforme expôs o Jornal do Brasil no último domingo - permitiu elevar em cerca de 130% os ganhos com a prestação de serviços nos últimos cinco anos, em termos nominais. A conclusão faz parte de levantamento realizado pelo Instituto Nacional de Estudo e Pesquisa em Administração (Inepad), que comprova, ainda, que os bancos faturam em duas pontas: a disparada na receita de tarifas não foi acompanhada pela folha de pagamento, que avançou apenas 43% no período.

Segundo a pesquisa, nos 12 maiores bancos, a receita gerada pela cobrança saltou de R$ 16 bilhões, em 2000, para R$ 28 bi nos nove primeiros meses do ano passado. Projetando-se igual ritmo para o quarto trimestre, os ganhos atingiram, ao fim do ano, R$ 37,4 bi.

Descontando-se a inflação do período, a força dos reajustes ainda é evidente. Em 2000, a receita da prestação de serviços atingiu R$ 25 bi. Comparando-se com os R$ 37,7 bi projetados para 2005, o ganho real é de 51%.

Tais ganhos são reforçados pela cobrança de serviços antes prestados gratuitamente e cujo uso é estimulado dentro da política de redução de pessoal implementada desde os anos 90 - caso, por exemplo, dos atendimentos via telefone e internet, tarifados em alguns bancos. A folha de pagamentos cresceu apenas de R$ 21,85 bi para R$ 23,44 bi - alta de 43%. A valores presentes, o ganho de 51% nas tarifas contrasta com queda de 3% na folha de pagamento - fruto da extinção de 50 mil empregos no setor no país, segundo o Sindicato dos Bancários do Rio.

Segundo o Inepad, a receita de tarifas bancárias, que representava 79% das despesas com pessoal em 2000, hoje cobre com folga a folha de pagamento, atingindo 106% de seu valor. No caso do Banco do Brasil, a proporção das tarifas em relação à folha de pagamento avançou de 56% para 103%.

- Os bancos ampliaram o portfólio de serviços e ganharam em escala, à medida que reduziram pessoal e difundiram o uso da tecnologia. Para evitar que as tarifas subam demais, é importante a criação de regras para estimular a concorrência, como o impedimento de se colocar o tempo de conta corrente no cheque (que será regulamentada pelo Conselho Monetário Nacional) - afirma Edson Carminatti, analista financeiro do Inepad.

- Os clientes pagam mais tarifas por um serviço cada vez pior, resultado da redução do número de funcionários. E a facilidade de cobrar essas tarifas, com o débito automático na conta, só prejudica o trabalhador, que não tem como priorizar suas despesas. Assim, acaba devendo cada vez mais ao banco - aponta Carlos Augusto de Aguiar, do Sindicato dos Bancários do Rio.

A Associação e Sindicato dos Bancos do Estado do Rio informou, por nota, que ''banco é prestador de serviços e deve cobrar pelo que o correntista utiliza'' e que ''tarifas não são fator de lucratividade, mas precisam existir para garantir a prestação dos serviços''.