Título: Câmbio afasta exportadores
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 26/01/2006, Economia & Negócios, p. A19

A trajetória de queda do dólar ao longo de todo o ano passado fez com que 895 empresas brasileiras deixassem de exportar entre dezembro de 2004 e novembro de 2005. A informação faz parte do boletim Comércio Exterior em Perspectiva, divulgado ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

De acordo com a entidade, as empresas de menor porte foram as mais desestimuladas a investir no mercado externo com a moeda americana em queda. No ano passado, o dólar recuou 13% em relação ao real. Com a moeda americana mais barata, o produtor brasileiro acabou perdendo competitividade na comparação com concorrentes de outros países.

''Ao perder o investimento feito em divulgação e os canais de distribuição dos produtos, as empresas não retornam facilmente ao mercado externo, mesmo que o dólar volte a se valorizar'', afirma a CNI.

De acordo com o economista da confederação, Marcelo Azevedo, apesar do recorde de mais de US$ 44 bilhões no saldo da balança comercial no ano passado, os prejuízos dos exportadores com a contínua desvalorização do dólar podem ter impacto no comércio exterior do Brasil em um futuro próximo.

Os técnicos da CNI lembram que a manutenção do ritmo de crescimento das exportações em 2005 é resultado dos preços internacionais - sobretudo das commodities - e não do aumento da quantidade embarcada.

''Com isso, o Brasil fica mais vulnerável no caso de uma eventual queda da demanda externa, que derrubaria rapidamente os preços, principalmente dos produtos industrializados'', diz a Confederação.

Mas a CNI também destaca que não há sinais de reversão nos preços internacionais para 2006. A previsão é de que a China e os Estados Unidos devem manter a demanda aquecida neste ano, segurando os preços.

E lembra que o Fundo Monetário Internacional (FMI) não prevê alteração no ritmo de crescimento mundial em relação a 2005, mas destaca fatores de riscos de menor expansão para este ano, como o aumento de juros nos Estados Unidos e as contínuas pressões sobre os preços do petróleo. Para o FMI, a economia mundial deverá crescer 4,3% em 2006.

Apesar dos efeitos da valorização do real na rentabilidade das exportações, a CNI estima que as vendas externas brasileiras deverão crescer 10% este ano na comparação com 2005 e atingir US$ 130 bilhões.

Segundo a Confederação, mesmo que não haja uma recuperação expressiva da demanda interna, por causa da postura cautelosa do Banco Central no corte de juros, as importações também continuarão crescendo e deverão atingir US$ 86,5 bilhões.

Com isso, a CNI estima que o superávit da balança comercial em 2006 será de US$ 43,5 bilhões.

Folhapress