Título: Aberto caminho para a Cidade Digital
Autor: Luciana Navarro
Fonte: Jornal do Brasil, 26/01/2006, Brasília, p. D3

A Câmara dos Deputados aprovou, por unanimidade, o projeto que prevê a ampliação do Parque Nacional de Brasília e abriu o caminho para a implantação da Cidade Digital. Com a aprovação, a área passa de 30 mil hectares para mais de 42 mil hectares. Os deputados da bancada do Distrito Federal não sabem o tamanho exato da área ampliada. O contorno do parque foi definido por texto elaborado às pressas pelo relator da proposta, deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP). - Venceu o consenso. Nem todos ganharam tudo o que queriam nem todos perderam tudo - afirmou o relator.

Os deputados aprovaram o projeto substitutivo do deputado Jorge Pinheiro (PT-DF), que prevê a ampliação do parque em 11,7 mil hectares. Ao substitutivo, Cardozo acrescentou uma emenda que sugeria modificações na planta do parque.

Pela emenda, ficam de fora do Parque Nacional de Brasília a região conhecida como Morada dos Pássaros, o terreno do Instituto Teosófico, os condomínios da Granja do Torto e um terreno privado acima da coordenada 266/365. A proposta de Cardozo inclui na área de preservação cerca de 2 mil hectares da Fazenda Dois Irmãos, que passa a ser totalmente incorporada ao parque, e uma área ao lado da DF-001.

A inclusão da Fazenda Dois Irmãos na área da Cidade Digital foi motivo de queixas dos deputados Alberto Fraga (PFL-DF), Jorge Pinheiro e José Roberto Arruda (PFL-DF). Eles disseram, em discurso no plenário da Câmara, que fizeram de tudo para garantir a exclusão das terras da região conhecida como Chapada Imperial.

- Incorporá-la ao patrimônio público é um risco porque a área é muito bem preservada por seus donos - argumentou Arruda.

As mudanças surgiram de acordo firmado durante a manhã entre a bancada do DF, o líder do governo na Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), e o diretor de Ecossistema do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Valmir Ortega. No encontro, ficou decidido o que entraria na área de preservação e o que seria retirado.

Promessa - Segundo Arruda, o Ibama se comprometeu a entregar o mapa às 15h. Entretanto, às 18h, quando a votação foi realizada, os mapas ainda não tinham chegado à Casa.

- O Ibama não cumpriu o combinado. Quem honrou o acordo foram o Chinaglia e o relator [Cardozo]- reclamou Arruda.

O atraso na determinação exata das coordenadas do parque fez o presidente da Câmara, Aldo Rebelo, protelar o início da sessão em mais de 40 minutos. Ortega negou que o Ibama tenha se comprometido a elaborar o mapa:

- Não havia condições técnicas de colher dados das modificações em tempo de imprimir a planta do parque.

A ampliação aprovada está aquém da pedida pelo Ibama, mas, mesmo assim, o diretor do órgão considera a nova área como uma vitória para Brasília.

- Tínhamos a expectativa de aprovar uma ampliação do Parque Nacional de Brasília que nos permitisse garantir a efetiva preservação da unidade. Mas, de qualquer forma, a área adicionada é um ganho para a cidade. Agora vamos ver as alternativas que corrijam as fragilidades apresentadas pelas mudanças feitas - afirmou Ortega.

Discussão - A deputada Maria José Maninha (PSOL-DF) acredita que o projeto deveria ser mais discutido pela Câmara, mas concordou em votar a proposta para que Brasília não perdesse o investimento de R$ 2,3 bilhões a ser feito pelo Banco do Brasil e pela Caixa Econômica Federal para a construção do Data Center na Cidade Digital.

- Deixamos para o Senado discutir qualquer alteração. Tanto o Banco do Brasil como a Caixa Econômica Federal deram um xeque-mate e Brasília não pode prescindir de um pólo industrial como a Cidade Digital - disse a deputada.

Apesar do projeto aprovado não ter as coordenadas exatas, o deputado Jorge Pinheiro garantiu que as indicações dadas por Cardozo na emenda apresentada de última hora permitem a localização exata da área.