Título: EUA admitem que Irã não tem arma
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Fonte: Jornal do Brasil, 03/02/2006, Internacional, p. A8

Programa nuclear de Teerã é tema de resolução que será enviada hoje ao Conselho de Segurança da ONU

WASHINGTON - O chefe da Inteligência dos Estados Unidos, John Negroponte, admitiu ontem que o Irã provavelmente não tem armas nucleares. Ressaltou, no entanto, que o risco de que produza é grande. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), reunida desde ontem, em Viena, divulga hoje a resolução que encaminhará o caso iraniano ao Conselho de Segurança da ONU. ¿ Consideramos que Teerã provavelmente ainda não produziu ou adquiriu o material de fissão necessário ¿ afirmou Negroponte, durante a audiência anual à Comissão de Inteligência do Senado, que avalia as ameaças sobre os EUA. ¿ Mas o perigo de o país vir a adquirir uma arma atômica e sua capacidade de adaptá-la aos mísseis balísticos que já possui são uma fonte de preocupação imediata ¿ acrescentou.

A questão foi discutida no Senado no mesmo dia em que a AIEA debateu, em Viena, o envio do caso ao Conselho de Segurança da ONU. A resolução, no entanto, só será divulgada amanhã pelo Conselho de Governadores do órgão.

Para o diretor-geral da AIEA, Mohamed El Baradei, a polêmica em torno do programa nuclear iraniano está ¿em uma fase crítica¿, mas não se configura como uma situação de crise. O especialista disse que é preciso ¿gerar confiança, já que não se trata de uma ameaça imediata¿.

¿ O Conselho dos Governadores vai mandar uma mensagem clara ao Irã de que deve cooperar com a comunidade internacional, mas não se trata de pedir ao Conselho de Segurança que entre em ação por enquanto ¿ afirmou o diretor. ¿ A AIEA quer oferecer uma janela de oportunidade ¿ acrescentou.

El Baradei descartou a possibilidade de o caso não ser levado ao órgão máximo da ONU, alegando que ¿a maioria prefere informar ao Conselho agora¿. A resolução vai estipular que qualquer medida só poderá ser tomada, no entanto, depois de preparado um novo relatório, previsto para março.

O motivo da resolução não ter sido divulgada hoje foi a necessidade de mais tempo para convencer alguns países a denunciar o projeto iraniano. Venezuela, Cuba e Síria já anunciaram que votarão contra.

Mas com o apoio da Rússia e, provavelmente, da China aos países europeus e aos EUA, ¿o sucesso da resolução fica garantido¿, afirmou um diplomata ocidental que não quis se identificar. Para ser adotado, o texto requer o apoio de uma maioria simples dos 35 países que fazem parte da AIEA.

A resposta do Irã ao diretor da AIEA, por sua vez, não foi cordial. Em carta enviada em nome do governo de Teerã, Ali Larijani, autoridade do país em questões nucleares, afirmou que a cooperação com a agência será limitada, caso a questão seja levada ao Conselho de Segurança.

¿O controle das atividades nucleares iranianas por parte da Agência Internacional de Energia Atômica será limitado consideravelmente, e o Irã retomará todas as atividades nucleares suspensas, sem restrição alguma¿, diz o comunicado.

El Baradei lembrou, no entanto, ¿que ninguém está pondo em dúvida o direito do Irã de ter acesso à energia nuclear para fins pacíficos¿, como estipula o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares (TNP), assinado também pela república islâmica. O diretor, para quem Teerã não deveria enriquecer urânio ¿ já que é esta é a fase inicial da fabricação de bombas atômicas ¿, exortou os iranianos a aceitarem a proposta ¿atraente¿ da Rússia, de dar continuidade à atividade em território russo.