Título: Açúcar tem maior preço em duas décadas
Autor: Peter McGill
Fonte: Jornal do Brasil, 05/02/2006, Economia & Negócios, p. A21

Os contratos futuros de açúcar refinado subiram para sua maior cotação desde 1989 em Londres, puxados por especulações de que Estados Unidos e Rússia vão aumentar suas importações do produto. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, pelas iniciais em inglês) informou esta semana que autorizará a importação de volumes adicionais de açúcar depois que os furacões que se abateram sobre os EUA no ano passado interromperam o abastecimento interno. As cotas de importações foram suspensas no país por quatro vezes desde agosto. Além disso, as tomadas de preços para formulação de pedidos por parte da Rússia, o maior importador mundial, se intensificaram nas últimas semanas, de acordo com relatório da corretora britânica Sucden.

- As perspectivas de importação de açúcar por Estados Unidos, Rússia e Paquistão ajudam a manter o ímpeto do mercado - disse Lindsay Jolly, economista-sênior da Organização Internacional do Açúcar de Londres. - Se as pessoas acreditam que precisam de um motivo para continuarem otimistas, obtiveram-no com os preços do açúcar.

O contrato de açúcar refinado para entrega em maio chegou a subir US$ 6,50, ou 1,4%, para 463,50 a tonelada na bolsa Liffe de Londres. Essa é a cotação mais elevada para o contrato mais próximo do vencimento, o mais negociado, desde 14 de julho de 1989.

Os preços do açúcar refinado subiram 71% nos últimos 12 meses, pressionados por especulações de que o Brasil, o maior produtor mundial, vai canalizar maior volume de cana-de-açúcar para a produção do combustível etanol, como alternativa à escalada dos preços da gasolina. Além disso, a União Européia (UE) precisa reduzir seus subsídios à exportação de açúcar refinado para cumprir determinação da Organização Mundial do Comércio (OMC).

- Os determinantes estruturais (da alta do mercado) são a demanda por etanol e a oferta de açúcar da UE - disse Jolly.

O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, fixou a meta de substituir 75% dos combustíveis importados, provenientes do Oriente Médio, por etanol e outros combustíveis alternativos até 2025. Os países europeus e asiáticos estão estudando a possibilidade de adotar o etanol como maneira de reduzir as emissões de gás carbônico vinculadas ao fenômeno do aquecimento global. O combustível é produzido a partir do milho nos Estados Unidos e a partir da cana-de-açúcar no Brasil.

O açúcar subiu também puxado por indícios de fortalecimento da demanda por parte de outras regiões do mundo.

''As tomadas de preços da Rússia para a compra de açúcar não-refinado (ou demerara) se intensificaram esta semana devido à disparada dos preços internos'', apontou a corretora Sucden.

O relatório também assinala a existência de demanda crescente por parte do Sudão, do Iraque e do Paquistão pelo produto.