Título: Criança é a maior vítima
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Fonte: Jornal do Brasil, 03/02/2006, País, p. A6

A menina jogada pela mãe na lagoa da Pampulha em Belo Horizonte parece ter chamado a atenção da sociedade para o problema da violência infantil. Coincidência ou não, depois do episódio um grande número denúncias de agressão à crianças veio à tona. Segundo números do governo, 18 mil menores são espancadas por dia.

Para o psicólogo Luiz Alberto Py, pesquisa recente publicada nos Estados Unidos constatou que as crianças são as maiores vítimas de homicídios. A maior parte dos algozes são os pais. O psicólogo acredita que a hipótese da depressão pós-parto não cabe aos episódios recentes de agressão.

- O deprimido tende muito mais a se matar do que matar o outro. Essa questão dos pais tentarem destruir os filhos é muito antiga, remete ao Complexo de Édipo - disse, referindo-se ao personagem mitológico ameaçado de morte pelo pai logo depois de nascer.

Para Py a gravidez indesejada faz com que a criança seja vista como inimigo, rival. Ele ressalta a atitude dúbia dos agressores:

- O quadro de jogar na água, de não matar diretamente indica um quadro de ambivalência.

A opinião do psicólogo é compartilhada pela socióloga da Uerj, Alba Zaluar. Ela afirma que apesar do grande número de casos que têm surgido o fenômeno se situa mais no campo dos instintos humanos. A professora afirma que o quadro de carência de recursos econômicos não tem relação com este tipo de violência.

Autora de um projeto de lei que tem o objetivo de proibir até mesmo a palmada como forma de ''educar'' crianças, a deputada Maria do Rosário (PT-RS) diz a cultura brasileira legitima a violência infantil.

- As surras constituem o primeiro degrau para a violência mais grave - disse.