Título: Muito além das palmadas
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 03/02/2006, País, p. A6

Casos de agressão infantil surpreendem pela crueldade e, em alguns dos novos casos, chegaram ao assassinato dos filhos

BELO HORIZONTE, SÃO PAULO, SANTA CATARINA - Outros quatro casos de violência contra seis crianças foram registrados ontem. Em dois deles, a agressão dos pais chegou à morte dos menores. Uma das tragédias repetiu-se em Belo Horizonte. Vítima de espancamento, uma menina de 1 ano e 6 meses morreu na madrugada de ontem em um pronto-socorro da capital mineira.

A julgar pelo estado físico da irmã de 5 anos da criança morta, a violência doméstica é uma constante na família. Em depoimento à polícia, a mãe das meninas, Luciene Coutinho Souza, disse que o namorado, identificado apenas pelo apelido ''Carioca'', é o agressor. Ele está foragido. Luciene tentou convencer os policiais que deixara a filha mais velha com uma mulher desconhecida.

A segunda morte causada por espancamento aconteceu em Joinville (SC). A criança de três anos morreu na manhã de terça após sofrer agressões. A menina apresentava fraturas nas costelas e machucados na barriga e teve também o duodeno rompido. Foi encaminhada à UTI. Ficou em coma por três dias, mas não resistiu aos ferimentos.

A mãe e o padrasto afirmam que foi a babá quem cometeu o crime. Porém, eles não souberam informar o nome completo da mulher que cuidava da menina. Segundo vizinhos, a família nunca teve empregada. Outras duas crianças que viviam com o casal foram levadas a abrigos transitórios.

Em São Paulo, outra agressão quase matou um bebê de 11 meses. Desta vez, o agressor foi o pai da criança, o porteiro Wilker Reger Cremun, de 26 anos. Ele chutou o andador da menina, fazendo com que rolasse escada abaixo. A queda foi forte e o bebê teve fratura múltiplas e acidente vascular cerebral que deixou parte de seu corpo paralisado. A criança permanece internada em estado grave. O pai está preso e confessou que já agrediu a garota outras vezes, sempre na ausência da mãe.

O crime ocorreu na noite do último dia 19, logo após o pai ter buscado a criança na casa da babá, uma vizinha da família. Ele costumava ficar sozinho com a filha por duas horas, até a chegada da mulher, uma recepcionista de 39 anos. Nesse dia, quando a mãe chegou, a menina já dormia e o pai pediu que ela não fosse acordada, pois estava ''chorosa''.

Durante a madrugada, por volta das 3h, a mãe ouviu a filha respirar com dificuldade. Quando chegou ao quarto, ela percebeu que a menina estava desacordada, tinha os lábios arroxeados e apresentava hematomas na lateral da cabeça. O agressor ainda tentou incriminar a babá, mas os vizinhos disseram à polícia que a criança estava bem quando foi entregue ao pai.

O município de São Vicente, litoral Sul de São Paulo também registrou outro caso de agressão infantil. Desta vez, a babá foi a responsável. Luciana dos Santos Pereira foi presa nesta semana acusada por maus-tratos contra duas crianças.

Um vizinho ouviu os gritos dos dois meninos, de 3 e 4 anos de idade, e resolveu chamar a mãe das crianças que havia chegado do trabalho e conversava com um amigo. Ao entrar na casa, ela as encontrou com marcas de mordidas. O garoto de três anos tinha também um corte no couro cabeludo. Ao ver os ferimentos, a mãe agrediu a babá, antes da chegada da Polícia Militar.

A babá afirmou que não havia agredido as crianças e que elas se machucaram brigando entre si. Luciana cuidava das das crianças há cerca de duas semanas. Após as agressões, os meninos foram levadas a um hospital e ficaram internados.

Como nem todos os crimes acontecem com flagrante semelhante ao caso de São Vicente, a Justiça se mantém no encalço de envolvidos nos episódios de agressão infantil. Ontem seis pessoas foram ouvidas pela polícia sobre o caso do bebê recém-nascido encontrado morto dentro de uma sacola de plástico em um córrego, na cidade de Canoas (RS).

Duas delas confirmaram à polícia que viram a mãe da menina, Regina Elaine Pereira, atirar a sacola na água. As testemunhas desconfiaram que na sacola havia um bebê, porque Regina já tinha sido acusada de matar um filho em circunstâncias semelhantes, em dezembro de 2001. Ela está detida na penitenciária de Porto Alegre.