Título: Renan briga para ser o vice de Lula
Autor: Daniel Pereira e Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 03/02/2006, País, p. A5

Presidente do Congresso age nos bastidores para derrubar candidatura própria do PMDB ao Planalto e formalizar apoio ao PT

BRASÍLIA - Apesar de defender em público a candidatura própria do PMDB ao Palácio do Planalto, dois líderes da ala do partido afinada com Luiz Inácio Lula da Silva não abrem mão hoje de uma aliança eleitoral com o atual presidente da República. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), trabalha com afinco para ser indicado ao posto de vice na eventual chapa à reeleição de Lula. Conta com o apoio do líder do PMDB na Casa, Ney Suassuna (PB), que deseja suceder Renan, em fevereiro de 2007, no comando do Congresso. Com a recuperação de popularidade do presidente e a iminente queda da verticalização, a prioridade de Renan e Suassuna é formalizar apoio a Lula e ampliar o espaço do PMDB no segundo mandato do petista. Estratégias para enterrar ou pelo menos esvaziar a candidatura própria já estão definidas. A mais drástica prevê ruptura com o pré-candidato que sair vencedor das prévias do partido marcadas para 19 de março. Como ocorreu nas últimas eleições, parte do PMDB não apoiaria o concorrente escolhido em eleição da própria legenda. Embarcaria na chapa do atual presidente da República, indicando o vice. O plano de ruptura e de composição com Lula já contaria com o apoio de quinze diretórios estaduais. Em algumas unidades da federação, os caciques peemedebistas cogitam inclusive não realizar as prévias, nas quais estão inscritos o ex-governador do Rio Anthony Garotinho e o governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto. Antes de firmar a aliança com Lula ¿por bem ou por mal¿, conforme expressão cunhada por um articulador das negociações com o presidente, a ala governista do PMDB tentará remédios menos amargos.

Renan e Suassuna insistem em adiar as prévias do partido. Em vez do enfrentamento, querem selar um acordo. A palavra de ordem é diálogo. Anteontem, o presidente do Senado, em gesto carregado de simbolismo, trocou amabilidades ao telefone com Garotinho. Até a realização do carnaval, o assunto tende a ficar em banho-maria. Se Garotinho vencer a disputa interna, os aliados de Lula partirão para a ruptura. Caso Rigotto seja vitorioso, a estratégia é convence-lo a desistir do páreo, com base na esperada recuperação de popularidade e de intenção de voto do atual mandatário do país.

O presidente Lula voltou a considerar seriamente a possibilidade de ter o PMDB como vice na chapa da reeleição. Durante a semana, bateu o martelo em torno da permanência do partido na Esplanada até o final do governo, tenha o PMDB pré-candidato ao Planalto ou não. Ou seja, se os ministros da Saúde, Saraiva Felipe, e das Comunicações, Hélio Costa, deixarem os cargos até 31 de março para concorrer em eleições estaduais, o PMDB terá direito a pelo menos duas novas vagas na reforma ministerial. Hoje, o partido também controla o ministério das Minas e Energia, com Silas Rondeau, uma indicação do senador José Sarney (PMDB-AP).

O sentimento no Planalto é o mesmo da ala governista do PMDB. Qualquer que seja o resultado das prévias, o partido terá de sacramentar a candidatura própria na convenção de junho. Até lá, a esperança é de que a vocação governista do PMDB fale mais alto, até porque a polarização entre PT e PSDB nas eleições se tornaria cada vez mais cristalina. Se Rigotto sair vencedor e não decolar até o prazo limite para a homologação da candidatura, em junho, a ala governista do partido terá um bom argumento para voltar correndo para os braços de Lula. Como Rigotto hoje pena para alcançar míseros 5% nas pesquisas de intenções de voto, esse é o cenário ideal na avaliação do Planalto e governistas.

Em caso de vitória do ex-governador Anthony Garotinho, a estratégia é esvaziar a candidatura dentro do partido. Em seguida, partir para a ruptura. Uma das maneiras seria impedir a realização das prévias em mais de 10 estados do país, locais onde o PMDB é controlado pelos caciques que hoje apóiam o governo petista. Para o presidente Lula, Renan seria o nome mais confiável do partido para vice. Além de ser um dos principais interlocutores do governo no Congresso, é reconhecido nacionalmente e pode ser um excelente puxador de votos país afora, sobretudo no Nordeste. O mesmo não ocorre com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Nelson Jobim. Pesaria contra Jobim, que ontem foi recebido por Lula no Planalto, suas relações históricas com a cúpula tucana.