Título: José Mentor se irrita ao ser questionado sobre Banestado
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Fonte: Jornal do Brasil, 03/02/2006, País, p. A4

Relator de CPI extinta responde a processo de cassação por receber R$ 120 mil

BRASÍLIA - Em depoimento ontem ao Conselho de Ética da Câmara, o deputado José Mentor (PT-SP) reclamou do excesso de perguntas sobre a época que era relator da CPI do Banestado. Ele ressaltou que não é acusado por nada relacionado àquela relatoria, mas pelos R$ 120 mil recebidos do advogado Rogério Tolentino, sócio do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza na empresa 2S Participações.

O relator, deputado Edmar Moreira (PFL-MG), avisou que vai desconsiderar qualquer resposta de Mentor relativa à CPI do Banestado, já que não é esse o objeto da representação contra ele. Mas advertiu que levará em conta o fato específico de que o deputado recebeu os R$ 120 mil quando estava à frente da relatoria da comissão.

José Mentor voltou a afirmar que os recursos de Tolentino foram recebidos como pessoa jurídica, em razão de três pareceres legais elaborados por seu escritório de advocacia. Para ele, a prova de que não foram para benefício próprio é a existência de notas fiscais e comprovante de recolhimento de impostos.

O deputado também lembrou que conheceu Marcos Valério em outubro de 2003 e disse que no encontro apenas discutiram a campanha municipal de 2004.

Mentor informou que acertou o contrato com a Tolentino & Mello Associação Empresarial para a sua empresa de advocacia dentro da sede do Diretório Nacional do PT em São Paulo, em março de 2003.

Mas a declaração do deputado comprovou, na opinião do deputado Orlando Fantazzini (PSOL-SP), que o petista aproveitou sua posição como parlamentar para conseguir este contrato.

Mentor confirmou que teve várias conversas com Tolentino e Marcos Valério, dentro e fora da sede do Diretório Nacional do PT, mas disse que não usou o cargo de parlamentar para atrair contratos. Ele negou também que tenha sido procurado por Tolentino para fazer este trabalho em 2004 porque à época era o relator da CPI do Banestado.

Mentor disse que a CPI do Banestado teve início em junho de 2003 e foi encerrada em janeiro de 2005. As conversas sobre o contrato para prestação de consultoria para Rogério Tolentino foram iniciadas em março de 2004 e o contrato foi fechado em abril deste ano. Para os deputados Fantazzini e Cezar Schirmer (PMDB-RS) a questão temporal comprova que, pelo menos para Marcos Valério, havia o interesse de manter relações financeiras com o relator da CPI do Banestado.

- Ele era o principal operador do Banco Rural e a CPI estava investigando a atuação do Banco Rural no exterior. É lógico que isto não foi uma mera coincidência - avaliou Fantazzini.

O relator do caso contra Mentor no Conselho, deputado Edmar Moreira (PFL-MG), confirmou que pretende encerrar o processo na próxima semana.

O relator do processo de José Mentor (PT-SP) no Conselho de Ética, deputado Edmar Moreira (PFL-MG), qualificou como ''frágil'' a defesa do petista no Conselho de Ética.

- É de uma fragilidade inconteste.

Para ele, o mais preocupante é Mentor ter sido relator da CPI do Banestado e prestar assessoria para o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza.

Entre junho de 2003 e fevereiro de 2005, Mentor foi relator da CPI do Banestado, que investigava a responsabilidade sobre evasão de divisas do Brasil para paraísos fiscais. Na época, ele foi acusado de favorecer o Banco Rural, mas, segundo o deputado, isso não ocorreu.

- Fomos contratados e prestamos serviços. O cliente contratou e está satisfeito, não há nenhum indício, a não ser o de serviços prestados - afirmou.

De acordo com José Mentor, os trabalhos foram sobre a Lei de Responsabilidade Fiscal, licitações na área de publicidade e prestação de serviços e direitos trabalhistas.

O relatório sobre Mentor deve ser o próximo a ser lido no Conselho de Ética. A fase de instrução do processo termina na próxima quinta-feira, dia 9, e a apresentação do relatório está marcada para o dia 14.