Título: Polícia ouvirá citados em lista
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 03/02/2006, País, p. A3

Sem confirmar autenticidade da relação de caixa 2 de Furnas, PF monta cronograma de depoimentos de políticos

BRASÍLIA - A Polícia Federal vai preparar cronograma de depoimentos de políticos citados em lista atribuída a suposta caixa 2 de Furnas Centrais Elétricas. A relação traz 156 nomes de pessoas supostamente beneficiadas com R$ 40 milhões para as eleições de 2002. Até ontem, somente o ex-deputado Roberto Jefferson tinha confirmado o recebimento de R$ 75 mil não contabilizados de Furnas para a campanha. A estratégia da PF é ouvir políticos ¿com perfil para colaborar¿ nas investigações. Deverão ser chamados primeiro os que assumiram ter recebido dinheiro do mensalão ou de caixa 2 em outras campanhas, entre eles os ex-deputados Valdemar Costa Neto, Bispo Rodrigues, ambos do PL, e Severino Cavalcanti (PP). Estão ainda previstos depoimentos dos atuais deputados José Janene (PP-PR) e Pedro Corrêa (PP-PE). O ex-ministro dos Transportes e atual prefeito de Uberaba, Anderson Adauto, também deve ser chamado.

A PF também deve chamar caciques do PSDB para darem explicações. Estão citados na lista de Furnas o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o prefeito José Serra. Ambos compararam anteontem a lista de Furnas ao Dossiê Cayman, conjunto de papéis falsos que atribuíam conta bancária em paraíso fiscal aos tucanos.

Os líderes dos partidos de oposição na Câmara cobraram a investigação da PF sobre a ¿lista de Furnas¿. Eles exigem a responsabilização judicial do autor da listagem. Em ofício endereçado ao diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda, o líder do PSDB, Alberto Goldman (SP), solicitou a apuração do caso, ¿considerando a inclusão indevida, e caluniosa do seu nome¿.

O deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA), líder da oposição na Casa, prometeu ir à Justiça contra o autor da lista, embora afirme ¿ainda não saber¿ quem seria esse autor. O deputado afirmou ainda que o líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ), telefonou ontem para o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e pediu que ele monitore as investigações da PF.

A autenticidade da cópia da lista do caixa 2 de Furnas, no entanto, não é a principal preocupação dos investigadores. Para eles, é necessário concentrar esforços para checar se realmente os políticos citados na lista receberam verbas do caixa 2.

A PF conta com a ajuda da Controladoria-Geral da União (CGU) para fazer auditorias nos contratos de todos os fornecedores de Furnas nos últimos anos, para identificar eventual superfaturamento para alimentar o caixa 2 nas eleições.

Ontem, a PF ouviu novamente o publicitário Duda Mendonça, na Bahia. Ele negou que tenha uma segunda conta bancária no exterior, além da conta Dusseldorf. A PF considerou o depoimento de Duda ¿improdutivo¿. A sócia de Duda, Zilmar Fernandes, também foi ouvida na PF. Nenhum dos dois deu detalhes do esquema de caixa 2 na campanha do então candidato ao governo de Minas em 1998, o atual senador Eduardo Azeredo.

Os investigadores perguntaram ao publicitário Duda Mendonça se ele teve reuniões com o ex-presidente da holding Brasil Telecom Participações, Humberto Braz. Duda, segundo a PF, teria confirmado os encontros, nas mesmas reuniões em que estava presente o dono do Grupo Opportunity, Daniel Dantas.

A PF vai chamar Braz para depor nos próximos dias. Ele teve mais de 200 encontros com o publicitário Duda Mendonça e Zilmar, 20 com Marcos Valério, 30 com o então presidente do Banco Popular do Brasil, Ivan Guimarães, e três com o ex-ministro da Comunicação e Gestão Estratégica, Luiz Gushiken.

Braz também tinha encontros com o presidente do fundo de pensão do Banco do Brasil (Previ), Sérgio Rosa, e com Eduardo Rascovsky, acusado de subornar uma juíza no Rio, em favor do Opportunity de Dantas. As telefônicas controladas pelo banqueiro injetaram mais de R$ 150 milhões nas empresas de Marcos Valério.