Título: Formigas também vão à escola
Autor: Claudia Bojunga
Fonte: Jornal do Brasil, 05/02/2006, Ciência, p. A7

As formigas se comunicam ensinando umas às outras o melhor caminho para chegar até a comida. Esta é a primeira vez que se verifica um modo de educação formal em animais, segundo afirmam os pesquisadores da Universidade de Bristol, responsáveis pelo trabalho publicado na revista Nature. Tudo começa quando a formiga líder vai até o formigueiro e exala um feromônio sinalizando saber onde está a fonte de alimento, atraindo assim outras operárias. Então, um indivíduo ou um pequeno grupo de dois ou três a segue em fila. As alunas aprendem o caminho observando pontos de referência a sua volta, como um pequeno pedaço de planta ou uma pedra. À medida em que vão assimilando as informações, tocam com suas antenas a perna e o abdômen da professora, para demonstrar que a caminhada pode continuar.

Mas o processo muitas vezes é demorado para o aprendiz, que pára e anda vagarosamente afim de captar a maior quantidade possível de sinais que demarquem a rota. Nesse caso, a líder, ao perceber que sua distância das demais aumentou, diminui a velocidade. Seus seguidores, por sua vez, aceleram. Quando o espaço diminui, o mestre entende que é hora de andar mais rápido.

¿ Segundo a definição que já existia na literatura científica, um indivíduo é professor quando consegue mudar o comportamento de outro, tendo um custo para ele mesmo ¿ explica ao JB Nigel Franks, professor da Escola de Ciências Biológicas da universidade.

O fato de as líderes acompanharem o grupo faz com que cheguem quatro vezes mais devagar à comida, passando de uma velocidade média de 8,4 mm/s ( milímetros por segundo) para 1,8 mm/s . Mas a perda individual, explica Franks, ocorre em prol do grupo, já que as outras formigas conseguem atingir à fonte de alimento duas vezes mais rápido do que se estivessem sozinhas.

Quando completam o percurso, as formigas anteriormente alunas, se transformam em líderes. Mas há, no entanto, uma condição para que isso aconteça: a relação custo-benefício.

¿ Vai depender da fonte de alimento. Se for um inseto grande, vai ser necessário que sejam recrutadas outras formigas para levá-lo até o ninho. No caso de um pequeno pedaço de comida, como uma folha, um indivíduo pode carregá-la sozinho¿ afirma Jarbas Marçal de Queirós, entomologista da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

Os cientistas demonstraram que o valor da informação pode influenciar mais o aprendizado do que o tamanho do cérebro.

Na pesquisa, foram analisadas formigas da espécie Temnothorax albipennis, mas segundo Queirós, o comportamento pode ser observado em outros grupos.