Título: Bill Gates se dobra a China e Índia
Autor: Rosana Hessel
Fonte: Jornal do Brasil, 28/01/2006, Economia & Negócios, p. A20

Ao iniciar um dos primeiros debates de ontem em Davos, o fundador da Microsoft, Bill Gates, não conseguiu fugir dos dois principais temas do Fórum Econômico Mundial (WEF), China e Índia, presentes na maioria dos seminários durante os três primeiros dos cinco dias do evento. O empresário disse que as vendas da companhia nos dois países crescem ano a ano, apesar do alto índice de pirataria, e que está otimista para que China e Índia eventualmente possam adotar práticas de licenciamento de software ocidentais, como fizeram Taiwan e Coréia. Ele acredita que isso deverá acontecer em dez anos.

- Esses dois mercados progridem ano a ano e possuem um grande potencial para nós em termos de escala, principalmente porque são lugares onde há um grande número de pessoas trabalhando para nós - disse.

Segundo ele, as vendas da Microsoft cresceram 30% nos últimos anos no mercado chinês e, por conta disso, a companhia vem incrementando os investimentos no país, assim como na Índia.

Os EUA, segundo ele, dominaram o mercado global nos últimos anos por ter centros de excelência de formação de profissionais, área em que a Índia vem se destacando. Cada vez mais a empresa investe em centros de pesquisa e desenvolvimento fora do país de origem.

- Os EUA formam 75 mil engenheiros por ano e esse número vem diminuindo, e a Índia, enquanto isso, treina 325 mil pessoas - afirmou, acrescentando que já não consegue pronunciar direito o nome de vários profissionais subordinados a ele. - Se um país quer ser inovador, precisa formar profissionais em ciência e engenharia em larga escala para conseguir uma grande evolução. E isso é o que esses países estão fazendo.

Mas o executivo mais famoso do mundo não falou apenas sobre o crescimento dos países emergentes. Mantendo forte a sua veia filantrópica, Bill Gates informou que vai triplicar a doação para o combate à tuberculose. Nos próximos dez anos, vai doar mais de US$ 900 milhões, por meio da Fundação Gates, para a causa. Na última década, a instituição doou US$ 300 milhões para conter a tuberculose, que deverá vitimar 14 milhões de pessoas em todo o mundo.

- É impressionante como uma doença que existe há mais de 100 anos e que eu só conhecia pela leitura de romances antigos ainda não tem uma cura eficaz - disse.

Gates, acompanhado do chanceler britânico, Gordon Brown, e do presidente da Nigéria, Olusegun Obasanjo, anunciou ontem o lançamento do Plano de Combate à Tuberculose (2006-2015), idealizado pela Stop Tuberculosis Partnership, entidade que reúne 400 organizações em todo o mundo. Para financiar o programa, está sendo criado um fundo de US$ 31 bilhões que deverá receber não apenas a contribuição de Gates, mas também a ajuda do G-8, grupo dos países mais ricos do mundo. A previsão é que os custos do projeto possam chegar a US$ 56 bilhões na próxima década.

A palestra de Gates não deixou de fora os bons resultados alcançados por sua empresa. A Microsoft divulgou ontem uma receita recorde no trimestre fiscal encerrado em dezembro de 2005, de US$ 11,8 bilhões, volume 9% acima do registrado em igual trimestre do exercício anterior. O lucro líquido da empresa no período somou US$ 3,65 bilhões e a previsão da companhia para o próximo trimestre é que a receita oscile entre US$ 10,9 bilhões e US$ 11,2 bi, com um lucro de US$ 4,5 bilhões a US$ 4,6 bi.

Mas vozes dissonantes também foram ouvidas ontem na estação suíça de esqui. Axel Weber, membro do conselho supervisor do Banco Central Europeu (BCE), e o bilionário investidor George Soros disseram que os mercados financeiros podem não estar refletindo com precisão os riscos que ameaçam a economia mundial.

- Eu advertiria contra a excessiva autoconfiança do mercado diante de seus bons resultados. Em tempos de baixas taxas de juros, os riscos não estão plenamente embutidos nos preços - disse Weber.

Já Soros afirmou que os executivos presentes pareciam ''excessivamente autoconfiantes''.

Com agências