Título: Oposição quer faturar com salário
Autor: Daniel Pereira e Karla Correia
Fonte: Jornal do Brasil, 31/01/2006, País, p. A4

A oposição articula nos bastidores para elevar o salário mínimo dos R$ 350,00 propostos pelo governo federal, a partir de abril, para um valor entre R$ 375,00 e R$ 400,00. A estratégia é clássica. E visa a empurrar para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva o ônus de, em pleno ano eleitoral, vetar um salário mínimo maior do que o anunciado por meio da mobilização da base aliada no Congresso ou de veto, uma conseqüência inevitável se o reajuste sugerido pela oposição for concretizado. De acordo com lideranças do PSDB e do PFL, será apresentada uma emenda à medida provisória do novo salário mínimo tão logo o texto chegue ao Congresso. Com a operação, os oposicionistas afirmam que querem ajudar o presidente Lula a cumprir a promessa de campanha de dobrar a remuneração em quatro anos de mandato. Quando Lula assumiu o valor era de R$ 200,00.

- O presidente Lula que mobilize sua base no Congresso e derrube o valor proposto pela oposição. Isso nos permitirá mostrar que o salário mínimo é defasado - diz o líder da minoria no Senado, José Jorge (PFL-PE).

Segundo o senador, a oposição apresentará emendas na Câmara e no Senado, a fim de pressionar o presidente.

Ontem, em seu programa de rádio, Lula sinalizou, mais uma vez, que usará o aumento do mínimo de R 300,00 para R$ 350,00 como bandeira na campanha eleitoral. O presidente ressaltou que o reajuste de 13%, além da inflação, permite ao trabalhador brasileiro aumentar um ''pouco'' o seu poder de compra. A correção proposta pelo governo custará aos cofres públicos cerca de R$ 4,7 bilhões. Se a oposição vencer a queda-de-braço e aprovar um valor de R$ 375,00, o impacto será de mais de R$ 8,8 bilhões. Para sorte do presidente, o salário mínimo de R$ 350,00 conta com o apoio das centrais sindicais. E um valor ainda maior pode aumentar a resistência das prefeituras, que já enfrentam problemas para enquadrar os gastos com funcionalismo aos limites impostos pela Lei de Responsabilidade Fiscal.

- A margem de manobra da oposição está muito pequena, pois o mínimo anunciado pelo governo conta com o apoio das centrais sindicais. O discurso deles ficará meio vazio - afirma o líder do PT no Senado, Delcídio Amaral.

No ano passado, a medida provisória sobre o salário mínimo rendeu dor-de-cabeça ao governo. Na Câmara, o texto foi aprovado de início da forma como editado pelo presidente Lula, ou seja, estabelecendo um valor de R$ 300,00. Enquanto os aliados festejavam, o então presidente da Casa, ex-deputado Severino Cavalcanti (PP-PE), colocou em votação onze emendas. Todas foram aprovadas, entre elas uma de autoria do secretário-geral do PSDB, deputado Eduardo Paes (RJ), que aumentava a remuneração para R$ 536,28. Diante dos apelos governistas, a oposição cedeu e aceitou que a votação fosse refeita.

Desarticulado no Congresso, o Planalto também sofreu derrota parcial no Senado, quando PSDB e PFL conseguiram emplacar no plenário um valor de R$ 384,29, proposto pelo senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA). O levante da oposição foi motivado por uma lista apresentada pelo deputado Paulo Pimenta (PT/RS), na qual políticos mineiros do PSDB e do PFL apareciam como beneficiários de Marcos Valério.