Título: Hamas acena com trégua e depois recua
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Fonte: Jornal do Brasil, 09/02/2006, Internacional, p. A21

Ministra diz que ANP se tornará 'Estado terrorista'

CAIRO - O grupo palestino Hamas, vencedor nas eleições palestinas, deu mostras ontem de ainda não ter definido uma posição em relação ao futuro. Pela manhã, o líder político da organização - cujo estatuto traz como objetivo a destruição de Israel - Khaled Meshaal, havia declarado à BBC que haveria possibilidade de negociação e uma trégua a longo prazo com o governo israelense se o Estado judeu recuasse suas fronteiras para a linha de 1967 (a mesma defendida pelas Nações Unidas). Meshaal condicionou o movimento também ao direito de retorno aos 4,5 milhões de refugiados e abandonar todos os seus assentamentos.

Mais tarde, o mesmo Meshaal recuou, afirmando que não cederá à pressão, apesar das ameaças internacionais de corte na ajuda financeira a um governo palestino sob o comando do grupo islâmico.

- O Hamas não reconhece Israel e não vamos aceitar que ninguém nos encurrale - disse, em uma reunião no Cairo, onde esteve para encontros com integrantes do grupo xiita que vivem no exílio. O tema do encontro teria sido a busca por fontes alternativas de financiamento.

- Se a porta do Ocidente estiver fechada, a porta do oriente árabe e islâmico ficará aberta - acrescentou. - Ouvimos boas promessas e excelentes compromissos.

Segundo a Inteligência egípcia, o Irã preencherá a eventual lacuna financeira deixada por União Européia e EUA.

Em Washington, onde se reuniu com a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, a ministra das Relações Exteriores israelense, Tzipi Livni, reagiu dizendo que um governo palestino do Hamas poderia ser considerado ''terrorista'' e ser alvo de sanções internacionais.

- Quando uma entidade, um Estado, é dirigido por terroristas, vai se transformar em um Estado terrorista - disse.

Segundo a ministra, nesse caso, a comunidade internacional ''poderia recorrer às suas próprias sanções e medidas''. A ministra também advertiu que seu país pode não se sentir obrigado a cumprir acordos quanto à transferência de milhões de dólares à ANP, referentes à retenção de impostos e taxas.

- É inaceitável pedir a Israel que cumpra seu papel nesses acordos quando a outra parte não admite sequer o nosso direito de existir - acrescentou.

Tzipi Livni lembrou que o dinheiro poderia ser destinado a ''financiar ataques contra cidadãos de Israel''. Já a secretária Condoleezza Rice lembrou que a posição dos EUA consiste em que qualquer Governo palestino deve reconhecer o Estado de Israel e renunciar à violência.

- Se a pretensão é uma solução de dois Estados convivendo, tais condições são necessárias.