Título: Caminho livre para mosquitos
Autor: Waleska Borges
Fonte: Jornal do Brasil, 31/01/2006, Rio, p. A6

Com o crescimento do número de focos do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, provocado pelos temporais e as elevadas temperaturas dos últimos dias, aumentam as chances do surto da doença na Zona Oeste se espalhar pela cidade. O alerta é do epidemiologista Roberto Medronho, diretor do Núcleo de Estudos de Saúde Coletiva da UFRJ. Segundo ele, o ambiente está propício para o crescimento da larva até a forma alada do inseto. O processo demora até duas semanas, mas em condições favoráveis pode ser acelerado para 48 horas. As condições climáticas favoráveis para a multiplicação dos focos devem se repetir nos próximos meses. Segundo o meteorologista Alexandre Nascimento, do Instituto Climatempo, a previsão é de temperaturas altas e tempestades até o final do verão. A preocupação com o aumento dos criadouros já levou o secretário estadual de Saúde, Gilson Cantarino, domingo, a emitir um alerta à população. Com as chuvas, um outro agravante, segundo Medronho, é a reprodução dos mosquitos em pontos estratégicos chamados de macrofocos, entre eles, terrenos baldios, construções, borracharias e cemitérios.

- Os mosquitos saem dos macrofocos e chegam até aos pequenos focos, sendo que 90% deles são domiciliares. Temos que ter atenção com a dispersão do mosquito, porque o índice da infestação está alto em várias localidades do município. O surto localizado na Zona Oeste pode ir para outras áreas da cidade - explica Medronho, que ainda descarta a possibilidade de uma nova epidemia.

Apesar da preocupação do especialista, o subsecretário municipal de Saúde, Mauro Marzochi, não acredita que o surto de dengue vai se expandir pela cidade. Ele afirma que as ações de combate ao mosquito serão suficiente para conter a proliferação do Aedes na Zona Oeste. Marzochi

também garante que os agentes municipais visitam a cada 15 dias as áreas conhecidas como macrofocos. Marzochi insiste, no entanto, que há necessidade da população eliminar os criadouros domésticos dos mosquitos. O subsecretário recomenda ações como virar garrafas, tirar água parada dos pratos de plantas e eliminar os pneus velhos.

O epidemiologista Roberto Medronho tem uma outra preocupação além das chuvas. Segundo ele, na manhã de ontem, durante visita em Curicica, Jacarepaguá, na Zona Oeste, 20 pessoas de uma mesma rua disseram que estão com dengue ou já foram infectadas pela doença. Os dados oficiais da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) indicam que 56 pessoas do bairro contraíram a doença no mês de janeiro. Em toda a cidade, foram 389 casos.

- A estatística oficial dos casos de dengue está muito aquém da realidade. Muitas vezes, pela grande demanda de pacientes nos hospitais públicos, os médicos não têm tempo para fazer a notificação dos casos à Secretaria de Saúde - avalia Medronho.

Segundo o vereador Carlos Eduardo (PPS), presidente da Comissão de Saúde da Câmara Municipal, para cada caso de dengue notificado há até quatro não notificados. Ele lembra que a taxa de infestação do mosquito no município é de 7,2%, enquanto o recomendável pela Organização Mundial de Saúde é de 1%.

A força-tarefa de combate à dengue que começou quinta-feira, na Zona Oeste, com 100 agentes do Estado e 600 bombeiros, já contabilizou, até a manhã de ontem, a marca de 30 mil casas visitadas. Segundo o coronel Marcos Silva, chefe do Estado-Maior do Corpo de Bombeiros, foram eliminados ou tratados mais de 35 mil depósitos de água. Durante a ação dos bombeiros, eles foram impedidos de entrar em 59 residências.

- A nossa meta é de visitar até 91 mil casas em dois meses - espera o coronel.

A assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Saúde informou que conta com 2.300 agentes, 300 deles na Zona Oeste. Segundo a assessoria, apesar das chuvas, o número de agentes não será aumentado. Na manhã de ontem, uma equipe de agentes deu orientação aos moradores da Cidade Nova.