Título: Indonésia rejeita a Playboy
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 31/01/2006, Internacional, p. A10

Mais de 200 pessoas, membros do grupo estudantil Muçulmanos Preocupados, marcharam ontem pela principal avenida de Jacarta em rejeição pela publicação de uma edição local da revista masculina Playboy.

- Não publiquem esta imundice. Mantenham o país limpo - gritavam.

- Não queremos este tipo de pornografia aqui. Já há muito vício neste país - justificou Muhammad Salim.

A mobilização na Indonésia - a maior nação muçulmana do mundo - vinha crescendo desde o fim de semana, com manifestações isoladas e petições na internet. O assunto foi debatido até nas organizações islâmicas, como a moderada Nahdlatul Ulama.

- Nossa cultura e atitude em relação à nudez é diferente daquelas dos Estados Unidos e da Europa. A revista simplesmente não tem lugar nas nossas normas sociais - explicou o diretor da comissão, Hasyim Muzadi.

- Da perspectiva do governo, não concordamos com o lançamento da Playboy - acrescentou, na sexta-feira, o vice-presidente, Jusuf Kalla.

A famosa revista já assinou um contrato com uma editora local para a publicação de sua 21ª edição internacional. Mas a estréia está adiada ''até que os sócios fiquem satisfeitos com o modo como o produto vai atender às sensibilidades do mercado'', revelou o diretor editorial da Playboy, David Walker:

- Será talhada para a cultura e as preferências da Indonésia, em conformidade com os padrões legais da região. E vai se concentrar no que temos de melhor: alta qualidade editorial, incluindo entrevistas e matérias de reconhecidos escritores e jornalistas locais.

Eddy Suprapto, líder da Aliança de Jornalistas Independentes, classifica a oposição à publicação como ''ignorante, xenófoba e hipócrita'':

- É um ódio irracional contra um produto ocidental. Eles só associam o nome à pornografia. Mal sabem que a Playboy já fez entrevistas com proeminentes figuras do Islamismo e artigos sobre a Al Qaeda.

Suprapto revelou ainda que é muito fácil conseguir material pornográfico, ''mais pesado do que o da Playboy em qualquer sinal de trânsito de Jacarta.

O vendedor de revistas Ferry Abdullah ri ao ouvir sobre o assunto.

- Pornô é o que eu mais vendo - afirmou o homem, oferecendo um catálogo da bricolagem Ikea e uma cópia da Tits, revista produzida na capital, com fotos de mulheres nuas e casais encenando histórias sexuais. - Tento vender este catálogo há 10 dias. Desde domingo, já vendi três Tits.

O bairro de Glodok é famoso pela quantidade de ofertas de pornografia em DVD e cybercafés onde os indonésios entram em sites para adultos.

- Das 20 páginas de sexo na rede mais acessadas por aqui, uma quantidade mínima é estrangeira - disse Leo Batubara, membro do conselho de imprensa da Indonésia.