Título: Benefício duvidoso
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 09/02/2006, Opinião, p. D2

Começaram ontem as inscrições para o primeiro vestibular do campus de Planaltina da Universidade de Brasília, por sua vez também a primeira unidade descentralizada da UnB, em cidade-satélite. Estarão abertas 30 vagas para bacharelado em Gestão de Agronegócio e 40 para licenciatura em Ensino de Ciências Naturais, ambos selecionados a partir de um estudo sobre as necessidades e as carências da comunidade da região. Em si, trata-se de uma medida altamente positiva. Encaixada em uma estratégia de descentralização nacional, que visa justamente atingir áreas periféricas até agora ignoradas pelas universidades federais, a instalação do campus em Planaltina abrirá oportunidades para um público antes marginalizado.

É preciso, porém, examinar determinados pormenores do próprio vestibular. A seleção privilegiará os alunos vindos de escolas da região de Planaltina. Os aprovados que obtiverem uma nota mínima nas provas objetivas verão seu número de pontos ser multiplicado por 1,2. Só terá direito a esse bônus quem estudou durante os três anos do Ensino Médio em escolas de Planaltina, Brazlândia, Sobradinho, Formosa (GO), Buritis (MG), Água Fria de Goiás (GO), Cabeceiras (GO), Planaltina de Goiás (GO) e Vila Boa (GO). É uma forma de garantir o objetivo de atender à região. No entanto, trata-se infelizmente de medida de duvidosa legalidade, ao introduzir um fator discriminatório na escolha de candidatos.

Um problema adicional é a falta de recursos. Ao que se sabe, a UnB só conseguiu, para ministrar os cursos do novo campus, um acréscimo de dez vagas de professor. Quando se sabe que o conjunto da universidade apresenta hoje um déficit de várias centenas de docentes, nota-se a chocante incompatibilidade de números. Ao longo dos últimos anos a UnB apenas perdeu quadros. Será difícil garantir ensino de qualidade no novo campus.