Título: Dúvidas cercam reconstrução
Autor: Sheila Machado
Fonte: Jornal do Brasil, 05/02/2006, Internacional, p. A11

O presidente eleito no pleito de terça-feira no Haiti vai assumir uma tarefa há muito adiada: dar início ao processo formal de reconstrução do país, que há dois anos sofreu uma convulsão social cujos resultados foram a renúncia de Jean-Bertrand Aristide e a mobilização da missão de estabilização da ONU, Minustah, comandada pelo Brasil. Apesar de capacetes azuis brasileiros não estarem confiantes no resultado, será do futuro governo a missão de determinar programas de criação de empregos e melhoria da infra-estrutura no mais pobre país das Américas. Trabalho que a administração de transição, nomeada pelas Nações Unidas, deixou de fazer ora por falta de organização, ora por impedimento constitucional.

Depois da renúncia de Aristide, instituições internacionais pediram doações de US$ 1,1 bilhão para a reconstrução do Haiti, que seriam empregados num período de seis meses a um ano, entre julho de 2004 e setembro de 2006. Mas até julho de 2005, menos da metade do valor (US$ 427 milhões) havia sido doado. Os Estados Unidos, que prometeram outros US$ 500 milhões, condicionaram o repasse ao cumprimento do calendário eleitoral. Demanda que está sendo cumprida em cima da hora: 7 de fevereiro é o prazo dado pela Constituição para a eleição presidencial.

- O problema é que o governo de transição não tinha projetos especificando em que os US$ 427 milhões seriam usados. Então, apesar de disponível, a quantia não foi liberada. Mas o Haiti precisa dela e esta deve ser uma prioridade do futuro presidente - afirma ao JB Alain Deletroz, diretor do programa de América Latina e Caribe do International Crisis Group.

- A eleição de terça não vai resolver todos os problemas do país. Mas é um primeiro passo, pois vai estabelecer um governo que pode levar o Haiti à estabilidade, se aproveitar sabiamente usar os fundos de assistência internacional - concorda o cientista político haitiano Jean Voltaire.