Título: Briga nuclear será levada à ONU
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Fonte: Jornal do Brasil, 05/02/2006, Internacional, p. A14

VIENA - O Conselho de Governadores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que inclui 35 países, decidiu ontem, por votação, denunciar o programa nuclear do Irã ao Conselho de Segurança da ONU, devido ao que considera atividades suspeitas. O país islâmico terá, no entanto, um mês para cooperar com o Tratado de Não-proliferação nuclear, antes de o órgão máximo da ONU iniciar o debate sobre o caso.

Diferentemente da AIEA, os 15 membros do Conselho de Segurança podem determinar sanções a países que ameacem a paz e a segurança internacionais. A pedido da Rússia, a resolução da AIEA adiou a discussão na ONU até a próxima reunião da agência, em 6 de março.

- Os russos querem ter mais um mês para tentar convencer os iranianos - disse um diplomata ocidental, que pediu para ser mantido no anonimato. - Podemos debater o assunto, mas não serão tomadas decisões até então.

A resolução de ontem foi adotada por 27 votos a favor, três contrários (Cuba, Síria e Venezuela) e cinco abstenções (Argélia, República de Bielorússia, Indonésia, Líbia e África do Sul). O texto, apresentado inicialmente por França, Alemanha e Grã-Bretanha, ''exige a suspensão imediata de todas as atividades de enriquecimento, e novas medidas para criar confiança'', segundo o embaixador britânico no Conselho de Governadores, Peter Jenkins.

O documento faz menção ainda à ''desnuclearização'' do Oriente Médio, passagem que teve de ser negociada com Estados Unidos, União Européia, Rússia e China. O Egito havia exigido a inclusão das armas israelenses no texto.

Teerã, por sua vez, respondeu imediatamente, com o anúncio da produção em larga escala de urânio enriquecido e a suspensão do controle das instalações nucleares por inspetores da agência. A ordem veio do presidente, Mahmoud Ahmadinejad, que enviou uma carta à AIEA interrompendo, a partir de hoje, a aplicação do protocolo adicional ao Tratado de Não-proliferação. O documento, assinado pelo governo anterior, mas nunca retificado pelo Parlamento do país, dava à agência maiores poderes de inspeção.

Segundo diplomatas presentes à reunião, em Viena, a pressão do Conselho de Segurança será gradual. A previsão é que haja uma série de sanções diplomáticas, como a redução do número de representantes iranianos no exterior ou a proibição de algumas transferências de tecnologia.

O embaixador da Rússia na ONU, Andrei Denisov, destacou que as punições podem se voltar contra a comunidade internacional, já que o Teerã poderia interromper as exportações de petróleo e gás. Mas para líderes ocidentais, a decisão da AIEA foi bem-vinda.

- O mundo não ficará parado se o Irã continuar na direção das armas nucleares - garantiu a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice.

- O Irã não merece a mínima tolerância, já que cruzou de propósito a linha vermelha - reagiu a chanceler alemã, Angela Merkel.