Título: Repórteres criam técnicas de sobrevivência
Autor: Clara Cavour
Fonte: Jornal do Brasil, 05/02/2006, Internacional, p. A15

A onda de seqüestros de jornalistas exibidos como moeda de troca para o Ocidente em vídeos caseiros obriga repórteres e editores a traçarem planos esperando o pior. Para Frank Smyth, autor do livro On Assignement: A Guide to Reporting in Dangerous Situations (Em campo: um guia para reportagens em situações de perigo, em tradução livre) é preciso avaliar, a todo tempo, os riscos da cobertura versus a recompensa do trabalho:

- Os enviados devem se preocupar com proteções básicas como seguro de saúde e vida e equipamento que inclua um colete à prova de balas e até um capacete, quando apropriado - observa ao JB o jornalista, que cobriu a Guerra do Golfo, em 1991, e hoje é membro do Comitê de Proteção a Jornalistas (CPJ), de Nova York. - Além disso, é preciso que haja um treinamento prévio para ambientes hostis.

Smyth, que ficou sob poder de seqüestradores iraquianos por 18 dias durante a cobertura do conflito da década passada, acredita que editor e repórter devem criar estratégias para a possibilidade de seqüestro ou desaparecimento do profissional:

- Se o jornalista é capturado, o ideal é que o meio de comunicação para o qual trabalha atue junto com grupos em defesa da liberdade de imprensa e elabore uma campanha. No caso da Jill Carroll, os esforços estão envolvendo jornalistas árabes e muçulmanos proeminentes, personalidades políticas e intelectuais. A idéia é que se manifestem publicamente pela americana.

Smyth acredita que o que move um repórter a sonhar com o Iraque ''são a sensação de dever e o apelo do ego'':

- Cada jornalista deve pesar o que é melhor para si. Muitos são movidos pela fama e pelo dinheiro, já que os salários aumentam nessas situações de perigo.

Florence Aubenas, repórter francesa libertada em junho do ano passado depois de seis meses no cativeiro, diz que se sentia mais forte quando pensava que estava no Iraque porque quis, independente dos riscos:

- Bagdá é o coração dos principais assuntos da nossa época. Para um correspondente internacional, é um sonho estar lá.

Já a italiana Giuliana Sgrena, refém por um mês, diz que ganhava forças pensando na dignidade do seu trabalho:

- Eu tentava me mostrar sempre segura, nunca submissa - disse, quando foi libertada. - Pensava em pessoas que resistiram a situações piores antes de mim, como Nelson Mandela, prisioneiro por 27 anos - lembrou.