Título: ''O PSDB erra na ação''
Autor: Daniel Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 07/02/2006, País, p. A2

- A que o senhor atribui as declarações do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sobre o PT? - É um episódio normal dentro do ambiente democrático, mas atípico para a condição de um estadista, de um ex-presidente da República, de um homem que foi tão importante na nossa história contemporânea. A um ex-presidente da República não cabe um comportamento maniqueísta em relação ao governo que o sucede, porque isso diminui a sua estatura. Ele cometeu uma infelicidade no intuito de ajudar a candidatura do prefeito José Serra, do governador Geraldo Alckmin ou de alguém do PSDB.

- O PSDB acusou o golpe da recuperação do presidente Lula?

- Sem dúvida alguma. É uma ferida que fica aberta no cenário político atual, exposta e tendo como porta-voz o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O PSDB quer marcar diferença na comparação com o PT, dizendo que no governo petista a corrupção é sistêmica.

-Esse argumento é pertinente ou os dois partidos tem o mesmo telhado de vidro?

-No passado, cometemos erros ao emitir juízos de valor quanto à dignidade do governo Fernando Henrique. Agora, eles cometem os mesmos erros em relação ao nosso governo. Constitui-se um ato de farisaísmo. Ainda há focos de podridão moral no atual governo, mas em todos os governos da República isso existiu.

- O senador Arthur Virgílio disse que o governo ''malufou''. Na eleição, esse tipo de declaração passará sem resposta?

Não. Mas é o que eu disse: quem vai responder ao presidente Fernando Henrique são as bases partidárias, os militantes.

- O PSDB escolheu o discurso da corrupção, do campo moral e da ética. Por quê?

- Acho que o PSDB erra no método e na ação. Se ele reconhecesse os acertos do governo do presidente e apontasse aperfeiçoamentos, seria muito mais reconhecido. O quadro comparativo os torna menores, sugere essa reação e dificulta o lado virtuoso da política. Acho que quem sair primeiro desse ambiente maniqueísta e de corrosão terá muito mais credibilidade da sociedade e poderá consolidar sua imagem pública. Por mim, nós e PSDB estaríamos nos chamando para uma reunião de princípios e métodos de responsabilidades social e política e caminharíamos para aproximação doutrinária e de ação. Não estaríamos nos distanciando.

Mas isso em 2006 é impossível?

- É impossível porque disputam o mesmo espaço de poder que nós. Mas não quer dizer que em janeiro de 2007 não possamos discutir a governabilidade. É por isso que não deveríamos nos ofender tanto.