Título: Ministro do Planejamento é envolvido na CPI dos Bingos
Autor: Fernando Exman
Fonte: Jornal do Brasil, 09/02/2006, País, p. A3

Ex-tesoureira de Londrina acusa Paulo Bernardo de arrecadar recursos ilegais

BRASÍLIA - O depoimento da ex-assessora financeira do diretório do PT de Londrina coloca mais um ministro sob a mira da CPI dos Bingos. Soraya Garcia afirmou ontem que, em 2004, Paulo Bernardo, do Planejamento, Orçamento e Gestão e que na época exercia o mandato de deputado federal, era um dos responsáveis por abastecer o caixa dois das campanhas locais do partido. O PT teria gasto R$ 6,5 milhões na campanha e contabilizado R$ 1,3 milhão.

Apesar de ressaltar a gravidade das acusações, lideranças da oposição ainda não sabem como proceder. Elas querem, de imediato, que as investigações sejam aprofundadas. O senador Tião Viana (PT-AC), diz que não haverá espaço para atacar Bernardo, porque Soraya não apresentou provas.

A ex-assessora sugeriu que o ministro, cuja mulher foi diretora financeira da hidrelétrica Itaipu Binacional, esteve envolvido numa remessa de R$ 400 mil feitos pela empresa ao caixa dois do PT na época. Soraya disse que desconhece a origem do restante do dinheiro não contabilizado pelo PT em 2004.

O ministro, que já processa a ex-assessora, divulgou nota oficial em que classifica de irresponsáveis as acusações feitas e que faltariam provas documentais. Bernardo ainda disse que nunca conversou com Soraya.

''Apoiei ativamente a campanha para reeleição do prefeito Nedson Micheleti. Não fui, entretanto, responsável ou co-responsável pela área financeira'', declarou o ministro.

Ele destacou que nada foi encontrado nas investigações realizadas pela Polícia Federal e Ministério Público.

Soraya afirmou que o caixa dois foi utilizado para pagar pessoal - inclusive para boca de urna -, o combustível dos carros utilizados na campanha, locação de automóveis e serviços gráficos. Os aluguéis de alguns carros teriam sido pagos pela multinacional de processamento de loterias Gtech e pelas agências de publicidade de Marcos Valério, acusado de operar o mensalão e o caixa dois de partidos políticos.

Suspeita de relações comerciais irregulares com a Caixa Econômica Federal, a Gtech informou que as declarações são falsas e infundadas. O departamento jurídico estuda medidas legais contra a ex-assessora.

Soraya também disse que o chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, era acionado pelo diretório do PT quando a campanha estava sem recursos. O mesmo ocorreu, pelo menos uma vez, com o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu. Ele teria levado R$ 300 mil em dinheiro para o escritório do partido em Londrina.

O relator da CPI dos Bingos, senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), avaliou o depoimento como ''um pouco exagerado''.

- Foi muito firme, a despeito de ela não ter trazido tantas provas. Soraya se mostrou muito segura, mas isso não é suficiente. Tem algo que possa ser exagero, um arroubo dela. Pareceu um pouco apaixonado - afirmou o relator.

Para Garibaldi, Soraya, que chorou no depoimento, não teria perdoado o PT por problemas durante a campanha e estaria, possivelmente, numa luta pessoal contra a legenda.

A CPI pedirá documentos à Polícia Federal e a quebra de sigilos para investigar as acusações da ex-assessora.