Título: Bancada quer intermediar verbas
Autor: Luciana Navarro
Fonte: Jornal do Brasil, 04/02/2006, Brasília, p. D3

A votação dos relatórios setoriais do orçamento no Congresso Nacional expôs a falta de diálogo do governo do Distrito Federal com a bancada do DF na Câmara. O GDF pediu ao relator geral da Comissão Mista de Orçamento, Carlito Merss (PT-SC), que fizesse um remanejamento de cerca de R$ 140 milhões nas contas do DF para permitir a contratação de 988 policiais civis. A solicitação foi feita por ofício encaminhado ao gabinete de Merss, sem ouvir a bancada. Para o deputado Wasny de Roure (PT-DF), o GDF se precipitou ao mandar o pedido ao relator geral da comissão.

- Teriam de falar primeiro com a bancada, que iria articular as mudanças. Não temos posição de um relator geral mas podemos influenciar - reclama Wasny.

Segundo o deputado, a proposta de remanejamento dos recursos encaminhada pelo GDF inviabiliza compromisso de recursos para o reajuste dos servidores da Polícia Militar e do Corpo Bombeiros.

- É importante ter novos servidores mas se preciso saber de onde tirar esse dinheiro - diz Wasny.

Para Wasny, o que o governador fez não caracteriza erro. O dinheiro do Fundo Constitucional do DF é dividido de acordo com as decisões da comissão, mas o governo não deveria mandar uma correspondência pedindo mudanças sem deixar os deputados a par da situação.

- Os deputados ficam alheios à intenção do governo e pagam o ônus de ter de tirar dinheiro de um reajuste para a Polícia Militar e para o Corpo de Bombeiros - indigna-se o deputado.

Wasny defende que o GDF apresente a programação de gastos para 2006 diretamente aos parlamentares e discuta todas as mudanças. O aumento de 18% anunciado pelo governador Roriz para a PM, o Corpo de Bombeiros e a Polícia Civil, na quinta-feira, será encaminhado à Casa Civil da Presidência para, então, ser enviado ao Congresso para votação.

- O governo deveria apresentar uma discussão completa e não fazer os deputados de paus mandados. Não adianta eles anunciarem um aumento para a Polícia Civil por conta de uma candidatura que acaba de nascer - afirmou Wasny, em uma referência a Laerte Bessa, diretor da Polícia Civil no DF, que deve concorrer a deputado federal pelo PMDB.

O deputado reclama também de negligência do GDF para aproveitar os recursos liberados pelo orçamento. De acordo com Wasny, a Caixa Econômica Federal colocou R$ 100 mil à disposição para a iluminação do Estádio Abadião, em Ceilândia.

- Nem o projeto nem os documentos foram apresentados. Falta mais comprometimento, empenho, interesse e motivação por parte do GDF - indigna-se Wasny.

A deputada Maria José Maninha (PSOL-DF) acredita que o diálogo com o governo do Distrito Federal existe apenas quando há interesse por parte do Buriti e cita como exemplo as reuniões feitas recentemente para agilizar a ampliação do Parque Nacional de Brasília, onde será criada a Cidade Digital.

- Não vejo diálogos, mas monólogos. A conversa com o GDF existe quando interessa a ele. Mas sua equipe, quando inaugura obras feitas graças às emendas apresentadas por nós convida apenas os deputados da base governista - avalia a deputada.

Para o deputado José Roberto Arruda (PFL-DF), que busca o apoio de Roriz para sua pré-candidatura ao Buriti, Wasny tem motivo para reclamar.

- O diálogo do governo com a base é bom, mas se o Wasny reclama é porque está com a razão. Se há algum culpado nisso talvez seja eu porque tenho o melhor diálogo possível com o governador, o Valdivino [secretário de Fazenda]e o Penna [secretário de Planejamento]- analisa Arruda.

O deputado garante que, como coordenador da bancada, vai procurar intermediar o diálogo com os deputados.

O porta-voz do governador, Paulo Fona, afirma que o governador tem procurado trabalhar próximo da bancada do DF no Congresso e, recentemente, enalteceu a força dos deputados federais que se empenharam na aprovação da ampliação do Parque Nacional de Brasília com a exclusão da área para a Cidade Digital.

- Buscamos a harmonia independente das diferenças partidárias - afirma Fona.